Por que cérebro faz você desistir de planos antes de colocá-los em prática?

"O que está por trás da desistência quase sempre é o medo de errar e fracassar. Para evitar que aconteça, a pessoa acaba nem tentando", diz a psicóloga e neurocientista, Franciele Maftum

Quantas vezes você decidiu que finalmente ia começar a se exercitar na segunda-feira, mas acabou largando a academia depois de algumas semanas? Ou teve uma boa ideia de negócio e até projetou como colocá-la em prática, mas desistiu no caminho? Ou, ainda, sente que tem dificuldade para levar adiante mesmo objetivos mais triviais, como beber mais água, dormir mais cedo ou ler determinado número de páginas de um livro por dia? Você certamente não está só.

Foto: Google Imagens"É comum se empolgar com uma ideia e dar os primeiros passos para realizá-la, mas depois paralisar" diz psicóloga
"É comum se empolgar com uma ideia e dar os primeiros passos para realizá-la, mas depois paralisar" diz psicóloga

Em primeiro lugar, é importante saber que mudar de ideia, alterar a rota, desistir de objetivos que uma vez pareceram importantes acontece com todo mundo, é da nossa natureza e às vezes resultado das circunstâncias. O problema é quando a desistência se torna repetitiva a ponto de atrapalhar a rotina e gerar sentimentos de frustração, raiva, culpa e inadequação, além de compulsão (por comida, pensamentos negativos, compras, por exemplo) e sintomas físicos como tensão muscular e dores, como de cabeça e no corpo.

"O que está por trás da desistência quase sempre é o medo de errar e fracassar. Para evitar que aconteça, a pessoa acaba nem tentando", diz Franciele Maftum, psicóloga e neurocientista, com mestrado em neurociência cognitiva pela Universidade de Reading, no Reino Unido. Ela explica que o comportamento quase sempre tem origem em crenças de insuficiência e inadequação que formamos sobre nós mesmos na infância.

Mas não é por isso que precisamos ser reféns dele para sempre. "O primeiro passo para mudar é desconstruir o estigma sobre si mesmo, ou seja, parar de repetir frases como 'eu sempre desisto das coisas' ou 'não vou nem começar porque sei que vou desistir', senão o cérebro vai continuar funcionando da mesma maneira", diz.

Veja o que mais está por trás da falta de persistência e como superá-la:

Falta clareza sobre o que e como fazer

É comum se empolgar com uma ideia e dar os primeiros passos para realizá-la, mas depois paralisar. Muitas vezes isso acontece simplesmente porque não sabemos como fazer dali para frente. Para evitar que aconteça e destravar a ação, busque conhecimento e faça um planejamento realista de metas que deseja alcançar. Procure também identificar que emoções estão associadas ao seu objetivo. "Ligar emoções positivas à ação é chave para se envolver com ela e querer repeti-la", fala Vanessa Tacchi, especialista em gestão do tempo e formada em gestão de processos pela UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul).

É só pensar na atividade física: quando bate preguiça de levantar cedo para treinar, pensar na sensação gostosa pós-treino, na disposição que garante para o resto do dia ou no efeito que tem para a qualidade do sono é um empurrão que funciona. Mas pense nos aspectos positivos observados na sua vida, e não no que o senso comum ou outras pessoas falam.

Suas metas e expectativas são muito altas.

Começar uma dieta pensando em perder 20 quilos (em vez de um quilo por vez) é receita quase certa para acabar desistindo. Assim como abrir um perfil nas redes sociais para ganhar dinheiro e milhões de seguidores: além de não estar sob seu controle, é importante considerar que nada disso vai acontecer de um dia para outro.

"Estabelecer metas muito grandiosas pode ser uma forma de autossabotagem: como sabe que não vai mesmo conseguir alcançá-las, a pessoa acaba desistindo ou nem tentando", diz Maftum. Metas menores são mais fáceis de cumprir, e mesmo que façam pouca diferença prática no início, colocar-se em movimento já dá uma sensação de realização e motivação para continuar.

Você faz as coisas sempre do mesmo jeito

Pessoas que se esforçam para não errar, têm dificuldade para receber feedbacks negativos e se importam demais com o que os outros pensam dela tendem a desistir com mais facilidade das coisas porque costumam acreditar que só existe um modo certo de realizar as coisas —o que nunca é verdade. Elas também têm a crença de que certas características, como organização, persistência, inteligência e criatividade, nascem com a pessoa e nunca mudam —outro mito. Por exemplo, se você sempre acordou cedo para meditar ou treinar, mas está difícil manter o hábito na pandemia, tente mudar o horário da prática em vez de abandoná-la.

Você foca no resultado, não no processo

"Como tende a evitar o erro a qualquer custo, alguém com mentalidade fixa precisa de recompensa rápida para se engajar em uma atividade ou processo", comenta Maftum. Por isso o risco de desistir é grande quando, por exemplo, ela acha que a primeira aula de um curso não foi muito boa ou conseguiu emagrecer só alguns gramas na primeira semana de dieta. Em vez de focar no resultado final da empreitada, tente estar presente em cada etapa dela e celebrar as pequenas conquistas durante o percurso.

Você está cansado

Nosso cérebro gosta de facilidade e evita o esforço, ainda mais depois de um dia cheio ou quando você está cansado. Diante do impulso de procrastinar ou desistir de algo que estava planejado, tente perceber pensamentos, emoções e reações físicas que surgem. Nesse momento, respirar com calma algumas vezes pode ajudar e fazer as coisas fluírem. "A respiração consciente é uma maneira de ativar a região do cérebro responsável pela tomada de decisão e planejamento e funciona como uma pausa ou refresh mental. Então, fica mais fácil escolher que atitude tomar, em vez de se deixar levar por comportamentos automáticos", fala Thais Gameiro, neurocientista pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e sócia da Nêmesis Neurociência Organizacional.

Fonte: JTNEWS com informações da UOL

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