Semana Santa, Simbolismo e Baianidades. Em que/por que cultuamos? Por Everaldo Carvalho
"Para os que crêem em Jesus de Nazaré como o Cristo, ou seja, o ungido, o qual orou, em purificação espiritual, durante uma quarentena no deserto, a páscoa alcança renovado signficado..."Independente da religião que professamos, no Brasil, como estamos inseridos na cultura judaica cristã, as datas festivas de grande relevância simbólica para a cristandade se transformaram em feriado, vezes municipal, estadual e, via de regra, feriado nacional.

Neste sentido, a Semana Santa é um desses eventos que mobilizam as consciências de nós “brazucas” crentes ou descrentes da tradição do povo hebreu.
Por assim dizer, cabe relembrar alguns conceitos que fazem parte do trajeto da semana santa. Para início de conversa lembremo-nos que Páscoa, do aramaico pascha, significa passagem.
Para os judeus comemora-se a passagem ou ruptura da condição de escravidão no antigo Egito dos Faraós para a condição de homens e mulheres livres rumo à terra prometida sob a liderança messiânica de Moisés que durou uma quarentena, 40 anos, no deserto, bem como Noé parmaneceu em sua arca, no período do dilúvio durante uma quarentena, 40 dias e 40 noites.
Para os que crêem em Jesus de Nazaré como o Cristo, ou seja, o ungido, o qual orou, em purificação espiritual, durante uma quarentena no deserto, a páscoa alcança renovado signficado, ou seja, relaciona-se a passagem da velha para a nova aliança, quando Jesus após ser crucificado em oferenda, morto e sepultado, desce à mansão dos mortos e ressucita ao terceiro dia.
Assim, como um Deus Sol, ascende aos céus e senta-se ao lado de Deus pai todo poderoso, consolidando assim, com o Espírito Santo, a Trindade Sagrada que baliza o dogma cristão.
Enfim, Jesus, pela expiação dos pecados, mediante calvário pela via crucis, nos revela uma boa nova (ou evangelhos em grego) e sua ressurreição ao domingo significa para os crentes um novo dia longo e eterno.
Por que a data da semana santa é móvel e se altera a cada ano?
Em 325 depois da era cristã no Concílio de Niceia estabeleceu-se, por resolução, que houvesse ano a ano, como uma gangorra de equilíbrio, a variação da data carnavalesca na justa medida para que, após a quarta-feira de cinzas que finda a festa da carne (carnevalle), houvesse a preservação de 40 dias, ou na linguagem cristã, um res-guardo de uma quarentena (daí o nome quaresma) para a limpeza e purificação da carne pelos excessos do carnaval visando a elevação do espírito antes do sábado de aleluia.
Eis porque, não comemos carne na sexta-feira santa, já que, o cristão embora possa comer carne durante a quarentena, se abstém da carne vermelha na sexta-feira, dia que finda a quaresma, considerando que o bom cristão aproveitou a quarentena para realizar leitura da Bíblia, jejum, oração e caridade.
Entretanto, na Bahia, a rigor, o não comer carne na sexta-feira não é sinônimo de elevação espiritual, considerando que o peixe à moda baiana é regado ao azeite de dendê, vatapá, caruru, vinho (dos bons e dos ruins também) e cerveja em fartura. Assim, tal festança pode ser enquadrada, a depender de quem julga, como um dos pecados capitais.
Qual a razão da comemoração baiana?
Talvez porque a bainidade nagô seja sincretizada com o povo malê, ou seja, negros escravizados que guardavam a fé no islamismo no período colonial, diferentemente dos judeus que guardam o sabá (sábado), dos cristãos que guardam o dia da resureiçao de Cristo (Domingo) e os muçulmanos que guardam a sexta-feira, dia em que Alá criou o primeiro homem e a primeira mulher.
Dito de outra forma, o “sextou” para o nagôcentrismo baiano profano religioso tem algo do islamismo, conforme o alcorão:
"Ó vós que credes! Quando fordes convocados, para a oração da Sexta-feira, recorrei à recordação de Deus e abandonai os vossos negócios; isso será preferível, se quereis saber.” (Alcorão 62:9).
Acredite incautos, a devoção da Bahia (a Estação primeira do Brasil, desbancando a Mangueira, segundo Caetano) é uma expressão, mesmo que gingada, da religiosidade da tradição de Abraão.
Não esqueçamos que judeus, cristão e muculmanos todos tem Abrãao como patriarca, o pai fundador de suas nações.
Enfim, temente ou não temente a Deus, quer seja louvando a passagem pelo mar vermelho para terra prometida por Moisés, celebrando o evangelho e a ressurreição de Jesus, ou abandonando nossos negócios laborais na sexta-feira como determina o alcorão, o que vale é agradecer por mais um dia, aproveitar os festejos da semana santa, porque segunda-feira é dia de branco não somente para os marinheiros e os profissionais de saúde, mas tambem dia de saudar Obaluayê/Omolu.
Abençoada seja a nossa semana!
Ubuntu.
Prof. Everaldo Carvalho, sociólogo, especialista em História e Cultura Afrobrasileira. Mestre em Educação, escritor e policial penal na Bahia.
Fonte: JTNEWS
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