Polícia Federal abre inquérito para apurar pagamento de R$ 9 milhões da JBS a Wassef

A investigação se baseia em documento de inteligência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) produzido em julho deste ano

A Polícia Federal abriu um inquérito para apurar movimentações financeiras de Frederick Wassef, ex-advogado do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e de seu pai, o presidente Jair Bolsonaro. A investigação se baseia em documento de inteligência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) produzido em julho deste ano.

Foto: Sérgio Lima/Poder 360Frederick Wassef, ex-advogado do presidente Jair Bolsonaro e de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ)
Frederick Wassef, ex-advogado do presidente Jair Bolsonaro e de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ)

O órgão apontou que foi realizado pagamento de R$ 9 milhões da empresa dos irmãos Joesley e Wesley Batista a Frederick Wassef no período de 2015 a 2019. À época, Wassef ainda advogava para Flávio e Jair Bolsonaro.

O relatório, revelado pela revista Crusoé, reúne informações bancárias envolvendo o advogado, seu escritório e uma empresa à qual é vinculado. As operações são consideradas suspeitas pelo Coaf. O inquérito foi aberto após o Ministério Público enviar à Polícia Federal a documentação do Coaf.

De acordo com a Crusoé, Wassef esteve ao lado do procurador-geral da República, Augusto Aras, e do presidente Jair Bolsonaro em uma operação de  bastidores em favor da JBS. A empresa, como contrapartida, teria viabilizado o pagamento de R$ 9 milhões para Wassef.

Segundo a reportagem, Bolsonaro teria solicitado a Aras que recebesse Wassef na sede da Procuradoria Geral da República (PGR), em 2019, para discutir a anulação do acordo de delação premiada de executivos da JBS nas investigações da operação Lava Jato.

A delação foi assinada em 2017. O acordo foi reavaliado depois que as gravações indicaram que o ex-procurador Marcelo Miller teria aconselhado Joesley Batista no acordo com a Procuradoria.

De acordo com a revista, Bolsonaro também telefonou diretamente para o subprocurador Adonis Callou, então coordenador da força-tarefa que receberia Frederick Wassef. Na ligação, o presidente não teria entrado em detalhes sobre o assunto a ser discutido, mas demonstrou satisfação com o encontro articulado.

O encontro ocorreu no gabinete de Callou, na sede da PGR, em Brasília. De acordo com a Crusoé, Wassef afirmou que gostaria de invalidar a possível anulação do acordo de delação premiada com executivos da empresa, que, em suas palavras, havia sido um dos mais eficazes de toda a Lava Jato até aquele momento.

A conversa foi encerrada quando os procuradores indagaram se Wassef tinha procuração pública – documento pelo qual uma pessoa concede autorização a outra para representá-la legalmente – para tratar dos interesses em benefício da JBS. O advogado disse que não tinha o documento naquele momento, mas que poderia apresentá-lo depois. Assim, os procuradores encerraram a reunião.

No cargo desde outubro de 2019, Adonis Callou deixou o comando do grupo de trabalho da Lava Jato na PGR em janeiro deste ano.

Outro lado

Em agosto, Wassef negou que tenha feito tratativas com Aras, ou que tenha havido qualquer atuação sua junto ao grupo JBS. Confira a íntegra:

“Em resposta às recentes notícias que circulam utilizando o meu nome, venho informar que qualquer tema relacionado à JBS ou qualquer outro cliente do meu escritório, não foi tratado com o Procurador Geral da República, o excelentíssimo Sr. Dr. Augusto Aras. Dentro das minhas competências como advogado, não atuei junto a PGR em nome da JBS no final de 2019 conforme noticiado pela mídia.

É importante salientar ainda que o Presidente da República, Jair Bolsonaro, jamais ligou ou pediu para que o Procurador Geral da República, Dr. Augusto Aras, me atendesse.

Não é de hoje que se levantam mentiras utilizando o meu nome ao noticiar FAKE NEWS – notícias falsas – na mídia nacional com a clara intenção de disseminar confusão, causar dano e atacar a imagem e a idoneidade do Presidente da República. Sem mais no momento.”

Também em nota publicada em agosto, a JBS informou que Wassef não representa a empresa junto à PGR. Confira a íntegra:

“A JBS esclarece que o escritório de advocacia mencionado não representa nem se manifesta em nome da Companhia junto à PGR. A empresa informa que os serviços prestados pelo escritório tiveram como finalidade atuação em inquéritos na esfera policial e que esses serviços foram prestados e pagos mediante emissão de notas fiscais, sendo a última referente ao ano de 2019.

Os valores e detalhes do contrato são protegidos por sigilo legal. A Companhia mantém um processo de auditoria de fornecedores, os quais são submetidos a due diligence e à aprovação da área de Compliance, o que também se aplica ao caso em questão. Esse processo realizou, ao longo do ano passado, 9.486 análises de forma independente e sistêmica e os casos não conformes foram bloqueados.”

A PGR afirmou, em nota, que Aras não participou de nenhuma articulação para tratar de eventual proposta de repactuação do acordo de colaboração premiada dos executivos da JBS com envolvimento do advogado Frederick Wassef.

“Todas as solicitações de audiência para tratar de assuntos jurídicos que chegam ao gabinete do PGR são direcionadas para os procuradores que atuam na respectiva matéria. O PGR dedica-se às áreas constitucional e cível perante o STF.”

Fonte: Poder360

Comentários