Flávio Bolsonaro tem potencial para afastar eleitor "nem-nem", avaliam especialistas

Ex-presidente Jair Bolsonaro escolheu filho mais velho para pré-candidato ao Planalto nas eleições do ano que vem

Desde que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ficou inelegível por decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em junho de 2023, uma discussão em torno de um nome "substituto" para a eleição de 2026 começou a ser criada.

Foto: Sérgio Lima/Poder 360O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), alvo de investigação por suposto esquema de "rachadinha" no Rio
Flávio Bolsonaro

Ao longo dos últimos meses, hipóteses foram tomando força, principalmente a partir dos acontecimentos envolvendo Bolsonaro, que, em setembro, foi condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado.

Desde o início dessa discussão, o nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), parecia ser o preferido do ex-presidente. No entanto, nesta sexta-feira (5), a decisão tomada foi na linha contrária. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) fez uma publicação afirmando que foi o escolhido pelo seu pai para a candidatura à Presidência.

"Eu me coloco diante de Deus e diante do Brasil para cumprir essa missão. E sei que Ele irá à frente, abrindo portas, derrubando muralhas e guiando cada passo dessa jornada", escreveu nas redes sociais ao anunciar a escolha.

"Se Bolsonaro falou, está falado", repercutiu o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, depois da publicação de Flávio.

“Seguiremos juntos, trabalhando com responsabilidade e compromisso com o Brasil”, escreveu o dirigente partidário.

Especialistas avaliam que o sobrenome Bolsonaro pode acabar afastando parte do eleitorado que não apoia nem o ex-presidente Jair Bolsonaro nem Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em uma eventual reeleição, o que poderia prejudicar uma candidatura de Flávio.

"Embora Flávio vá buscar apoio de outros partidos, a centro-direita tende a não embarcar no projeto. O motivo é a leitura de que a rejeição ao sobrenome Bolsonaro faz com que suas chances sejam baixas e a dificuldade da família de compartilhar decisões com parceiros", diz o cientista político Leonardo Barreto, sócio da consultoria Think Policy.

A avaliação também é compartilhada por Cláudio Couto, professor titular da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Segundo ele, Flávio "terá pouquíssima chance de ampliar [sua candidatura] para os setores da sociedade que não estão nem interessados no lulismo nem no bolsonarismo".

Para Barreto, é exatamente essa parcela da população que decidiu a eleição de 2018 e garantiu a vitória de Jair Bolsonaro, e a de 2022, que elegeu Lula para um terceiro mandato.

No entender de Cristiano Noronha, da Arko Advice, o nome de Tarcísio "sempre foi visto como uma opção capaz de unir mais o campo da direita do que outro nome". Nesse sentido, ele aborda a possibilidade de a candidatura de Flávio abrir espaço para outros candidatos, como dos governadores Ronaldo Caiado (União-GO), Romeu Zema (Novo-MG) e Ratinho Junior (PSD-PR).

Legado familiar

Por outro lado, Cristiano Noronha não descarta a hipótese de partidos como o PP, ou o Republicanos -- partido do governador de São Paulo -- decidirem apoiar o filho do ex-presidente em 2026.

"[A escolha por Flávio] Pode dividir, sim [os eleitores], porque o Tarcísio era visto como um nome mais possível de unir esse campo. Mas isso não significa que o Flávio não consiga unir outros partidos", diz.

Os cientistas políticos analisam a escolha do ex-presidente Jair Bolsonaro por Flávio como uma tentativa também de manter o legado do clã bolsonarista.

"É a estratégia de sobrevivência do bolsonarismo, que vai tentar manter esse grupo", afirma Cláudio Couto.

"O Bolsonaro estava numa situação de risco de perda de protagonismo. A gente estava vendo muitos partidos, muita gente articulando no campo do centro, já dando como certa a escolha do nome de Tarcísio. Acho que, talvez, isso tenha, de certa forma, causado uma certa insatisfação junto a Bolsonaro e, quando ele anuncia o filho, de certa forma, ele retoma um pouco o controle dessa escolha e cria um fato político importante", complementa Noronha.

Cenário para 2026

Ainda faltam cerca de dez meses para o dia em que os brasileiros irão às urnas escolher quem será o próximo presidente da República.

Até o momento os governadores Ronaldo Caiado, Romeu Zema, Eduardo Leite e Ratinho Junior são colocados como pré-candidatos ao Planalto.

O presidente Lula afirmou recentemente que ainda precisa realizar conversas sobre o tema, mas que se for preciso e se tiver saúde, concorrerá à reeleição e que, se o fizer, será para "ganhar".

O nome de Flávio abre espaço, no entender dos especialistas, para uma terceira via mais forte. O cenário, porém, segue incerto, considerando que o pleito ocorrerá apenas em outubro do ano que vem.

"O anúncio [da escolha por Flávio] cai como uma bomba para quem acreditava que 2026 poderia ser uma eleição para superação da polarização. Num primeiro momento, Lula melhora suas chances. No médio prazo não há outro caminho a não ser aguardar o desempenho de Flávio, sua capacidade de atrair alianças e veridicar a reação do eleitorado diante de um cenário que vai ficando mais nítido", conclui Leonardo Barreto.

Fonte: JTNEWS com informações da CNN Brasil

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