Ameixa Brava transforma-se em objeto de pesquisa na UESPI com foco em doenças pulmonares

A pesquisadora, profa. mestre em Química, Gilmânia Sousa, fala acerca das contribuições da pesquisa à Ciência, e sobre os procedimentos utilizados para chegar ao resultado da investigação científica

A Redação do JTNews recebeu nessa semana, a pesquisadora da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), professora mestre em Química, Gilmânia Sousa, para uma entrevista especial acerca do estudo que realiza sobre a eficácia da planta Ximenia americana, popularmente conhecida como ameixa brava, para o tratamento da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC).

Foto: Jacinto Teles/JTNewsGilmânia Sousa
Gilmânia Sousa

A DPOC é uma doença pulmonar de longo prazo e progressiva que envolve inflamação e espessamento das vias aéreas. Ao longo do tempo, as vias aéreas se tornam cada vez mais obstruídas, tornando difícil a respiração. Nos últimos anos, novas pesquisas estão sendo desenvolvidas com o objetivo de melhorar a vida das pessoas que possuem a DPOC. 

Além da importância do estudo, que pode trazer contribuições significativas à saúde das pessoas, Gilmânia teve seu artigo publicado em uma revista científica Journal of Etnopharmacology, que é referência na área da saúde.

Ela fala sobre as contribuições da pesquisa e sobre os procedimentos utilizados para chegar ao resultado da investigação.

Foto: Gilmânia SousaXimenia Americana
Ximenia Americana

JTNews: Como se deu o início da pesquisa?

Gilmânia Sousa: A nossa pesquisa foi desenvolvida na UESPI durante o mestrado. Começamos através de um dado alarmante: até 2020 a DPOC será considerada a terceira maior causa de morte em todo o mundo, e só vai perder para as doenças cardíacas e vasculares. Daí a necessidade de investigar possíveis alternativas que não causem alguns transtornos como efeito colateral, como é o caso dos medicamentos que estão no mercado e são utilizados e prescritos pela medicina tradicional.

Temos um grupo de pesquisa na Universidade, de produtos naturais em que investigamos plantas. Uma delas, conhecida como ameixa brava estava sendo estudada por minha orientadora, professora Valdiléia Uchôa. Então, já sabíamos do potencial anti-inflamatório dela, foi aí que decidimos testar a ação terapêutica da ameixa brava, no caso da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica.

Foto: Jacinto Teles/JTNewsGilmania
Pesquisadora explica as etapas realizadas na pesquisa

JTNews: Quais foram as etapas realizadas na pesquisa até agora?

Gilmânia Sousa: A primeira coisa que fizemos foi coletar as cascas do caule da Ximenia americana, no municipio de Domingos Mourão. Foi produzido o extrato adicionando água as cascas, que pesavam 300 gramas, até que atingisse o volume de dois litros. Esse material ficou na geladeria durante cinco dias, então fizemos uma filtração comum.  

No interior é chamado de "água da ameixa" ou "garrafada". Depois dessa produção, tivemos que induzir a DPOC nos ratos utilizando caixas de acrílico. Lá dentro eram acendidos os cigarros para que eles inalassem de forma passiva a fumaça durante 20 minutos, por um período de 60 dias. 

Após esse período de indução, os ratos foram tratados com o extrato da planta por nebulização (aerossol) durante 15 dias.  

Foto: Gilmânia SousaCasca da planta pesquisada, popularmente conhecida como "ameixa brava"
Casca da planta pesquisada, popularmente conhecida como "ameixa brava"

JTnews: A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica é pouco conhecida. Qual o motivo disso?

Gilmânia Sousa: Talvez pela sigla DPOC não, mas ela é uma doença quando engloba a bronquite crônica e enfisema pulmonar. Ela pode ser causada por diversos fatores desde problemas biológicos genéticos ou por irritação químicos, principalmente, pelo contato pela incidência da fumaça do cigarro, enquanto fumante.

JTNews: Quais as próximas etapas desse estudo?

Gilmânia Sousa: Então, nossa pesquisa visa chegar à ação terapêutica desse extrato que já é usado muito na medicina popular interiorana. Popularmente, o produto da ameixa brava é usado para processos inflamatórios. 

Precisamos realizar mais investigações fitoquímicos para investigar essas substâncias presentes na planta, além de mais testes para garanti que a Ximenia americana tem um efeito positivo. Estamos ainda no início dos testes relacionados a animais. É uma trajetória que precisa ainda ser dada continuidade.

Foto: Jacinto Teles/JTNewsGilmania
Gilmânia fala sobre as contribuições da pesquisa, e os procedimentos utilizados para chegar ao resultado da investigação

JTNews: Quais as maiores dificuldades até agora? 

Gilmânia Sousa: Elas foram muitas. O mestrado já é um grande desafio, mas em termos de pesquisa, a questão dos laboratórios, dos insumos, dos teste, entre outro, precisamos de recursos financeiros, que seriam a maior problemática. Ajuda veio da UESPI e dos professores se mostraram que mostraram positivos para ajudar.

Também tivemos ajuda da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e do Instituto Federal do Piauí (IFPI). Muitas vezes barravamos e conseguíamos matérial ou desenvolver, mas essas instituições ajudaram.

Foto: Gilmânia SousaTestes foram realizados em ratos.
Testes foram realizados em ratos

JTNews: Qual a Importância da orientação profissional durante a pesquisa?

Gilmânia Sousa: A minha orientadora, a professora do programa Valdiléia Uchôa, já desenvolvia alguns trabalhos com essa planta, como já disse, e ela foi fundamental por que são os professores que dão o direcionamento para que possamos fazer os testes corretos e conseguir uma publicação numa revista científica como a gente conseguiu.

O papel dos professores, principalmente da orientadora, foi fundamental. Só para dar uma ideia, nosso artigo tem 15 contribuições: professores de Veterinária, Farmácia, Medicina, entre outos. Tivemos um professor médico patologista que pode avaliar a histologia dos pulmões dos ratos para dizer até que ponto o extrato foi capaz diminuir essa informação pulmonar. Contamos com uma gama de investigadores e professores comprometidos, para que pudessemos ter resultado, como estamos tendo, finalizou a professora Gilmânia Sousa.

Fonte: JTNews

Comentários