Flores sempre-vivas de MG entram na lista do patrimônio agrícola mundial

As comunidades locais desenvolveram habilidades e práticas únicas para manter os recursos genéticos e melhorar a agrobiodiversidade

Um sistema agrícola tradicional na Serra de Espinhaço, no sul de Minas Gerais, foi registrado como um dos Sistemas Importantes do Patrimônio Mundial da Agricultura (SIPAM), que é gerenciado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). É a primeira vez que um sistema brasileiro conquista o reconhecimento do SIPAM.

Foto: Wikimedia Commons/Carolina Teixeira de Melo Franco (CC)Parque Nacional das Sempre-Vivas, em Minas Gerais
Parque Nacional das Sempre-Vivas, em Minas Gerais

Sediado em uma área montanhosa, o mosaico único de paisagens e ecossistemas de Espinhaço, onde as flores sempre-vivas são colhidas, representa a savana com maior biodiversidade do planeta e desempenha um papel crucial na regulação das chuvas na região.

Os agricultores locais, dedicados à colheita das flores sempre-vivas, desenvolveram um sistema agrícola eficaz que combina o cultivo de flores, horticultura agroflorestal, pastoreio de gado e culturas agrícolas, tudo em altitudes que chegam a 1,4 mil metros.

Esse complexo sistema é baseado em uma ampla gama de conhecimentos e práticas tradicionais que são transmitidos de geração em geração e que ajudam a população a alcançar a harmonia com o meio ambiente, garantindo a segurança alimentar e a subsistência.

“Graças à profunda compreensão dos ciclos e ecossistemas naturais e ao grande conhecimento da flora nativa, as comunidades locais gerenciam todos os tipos de atividades agrícolas bem adaptadas a cada tipo de solo e características geográficas e climáticas para obter seus meios de subsistência” , disse o coordenador da FAO SIPAM, YoshihideEndo.

“Essas atividades também contribuem para preservar valiosas variedades agrícolas, vegetação nativa e paisagens da região.”

Foto: FAODe abril a outubro, os coletores de flores e suas famílias sobem as montanhas da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais, para coletar as flores sempre-vivas, ficando lá por semanas
De abril a outubro, os coletores de flores e suas famílias sobem as montanhas da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais, para coletar as flores sempre-vivas, ficando lá por semanas

As atividades da população local variam desde a coleta, processamento e conservação de flores nativas nas terras altas da comunidade; pastoreio tradicional de gado ao longo de rotas de migração centenárias; a coleta de frutas, sementes e plantas medicinais em seu ambiente natural, a uma altitude mais baixa, até a manutenção de jardins familiares tradicionais e campos maiores nas encostas.

Nas montanhas de Espinhaço, são cultivadas 90 espécies agrícolas, incluindo hortaliças, árvores frutíferas e tubérculos. Ao longo de gerações, as comunidades locais desenvolveram habilidades e práticas únicas para manter os recursos genéticos e melhorar a agrobiodiversidade.

Ao percorrer as montanhas seguindo as práticas tradicionais de coleta de flores e pastagem de gado, a população valorizou uma grande variedade de espécies cultivadas em campos nativos que permitem que ecossistemas e paisagens se regenerem e se diversifiquem ainda mais a partir dos fluxos naturais de sementes e genes.

O acesso e o uso sustentável da flora nativa são controlados por cada comunidade, de acordo com os ciclos naturais das espécies e o nível da colheita, para garantir a renovação de cada espécie.

Sobre o Programa SIPAM

Com este novo registro, o número total de SIPAM em todo o mundo chega a 59 em 22 países. O programa destaca as maneiras únicas com as quais as comunidades rurais vêm se desenvolvendo ao longo de gerações para aumentar a segurança alimentar, seus meios de subsistência viáveis, ecossistemas resilientes e altos níveis de biodiversidade, além de contribuir para a criação de paisagens excepcionais.

Fonte: ONU

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