Diário de um invejoso
“O ódio espuma. A preguiça se derrama. A gula engorda. A avareza acumula. A luxúria se oferece. O orgulho brilha. Só a inveja se esconde." Zuenir Ventura“Sucesso no Brasil é ofensa pessoal.”
(Tom Jobim)
“A Inveja habita no fundo de um vale onde jamais se vê o sol.”
(Ovídio)
“...a inveja destrói como câncer.”
(Bíblia, Provérbios 14:30)
“Não há ódio mais implacável que o da inveja.”
(Arthur Schopenhauer)
“O invejoso chora mais o bem alheio que o próprio dano.”
(Francisco de Quevedo)

Culpado! Sou um invejoso. É difícil admitir; entretanto, depois de percorrer mais de duzentas páginas do romance “Mal secreto: inveja”, de Zuenir Ventura, reconheço em mim, tudo que foi exposto acima – contracapa do livro mencionado. Ainda citando o renomado autor da Academia Brasileira de Letras: “Como dizia Nelson Rodrigues, ‘há coisas que o sujeito não confessa nem ao padre, nem ao psicanalista, nem ao médium depois de morto’. Uma delas certamente é a inveja”. Por tudo isso, resolvi escrever este diário, que espero que ninguém o leia.
O autor ainda compara a inveja a uma doença invisível e destrutiva, como o câncer, que se manifesta de forma insidiosa e profunda. Confesso, embora o que eu sinta seja inconfessável, que tive raiva desse escritor por me compreender tão bem, e inveja por eu não ter essa habilidade de decifrar a mim mesmo. Notei com essa leitura que sofro mais do que os alvos de meu pecado capital, pois minha cabeça é um verdadeiro inferno, cheio de demônios que não me autorizam a celebrar o sucesso de alguém.
Sou um insatisfeito desde criança. Sempre competitivo com os coleguinhas. Odiava aqueles que corriam mais que eu. Meninos fedorentos com seus brinquedos velhos! Na adolescência, era comum eu divulgar mentiras sobre os garotos mais atraentes. Era irritante saber que as meninas os achavam bonitos (que nojo!). Adulto, casei-me, porém continuo desejando a mulher do próximo, tipo aquele ditado: “A grama do vizinho é mais verde”.
E assim tem sido minha vida, frequentemente minimizando a conquista alheia. Inclusive Vera Loyola, uma personagem do livro do eminente escritor mineiro adverte que “o verdadeiro amigo não é o que é solidário na desgraça, mas o que suporta o seu sucesso”. Na mesma obra, o Padre constatou que “a solidariedade na alegria é muito rara”. Isso me fez lembrar de que eu constantemente desejei que outras pessoas não possuíssem determinadas coisas e de que também eu queria o que lhes pertencia. Inegavelmente sou um olho-grande, “zoião”, “zoiúdo”.
No trabalho, fico muito incomodado com a eficiência de um indivíduo e sua consequente proeminência conquistada ao longo dos anos. Não me interessa se ele tem muita experiência e dedicação! Faço questão de fingir empatia com essa peste. Mas é só o desgraçado virar as costas, que eu assassino sua reputação (sou covarde demais para um confronto direto)!. Ah, já cheguei até a fazer uma emboscada! Iniciei conversa sobre determinado assunto a fim de incitá-lo a uma opinião. Tão logo ele a manifestou, gravei-o furtivamente, fiz uma edição, criei uma pérfida narrativa e saí divulgando para um e outro colega. Dessa forma, espero, de coração, causar-lhe muuuito prejuízo e que ele não descubra que fui eu – como falei, sou um covarde. Além disso, sou manipulador. Finjo altruísmo, lealdade e simpatia... e há quem acredite! Porém, no fundo, só quero me dar bem e que os outros se lasquem. Para isso, puxo, sem o menor desconforto ou constrangimento, o saco do chefe.
Certa vez, meu modus operandi não funcionou com uma pessoa. Chamou-me de louco. Bradou que eu deveria procurar um psiquiatra. Ora, por que eu gastaria meu dinheiro com um “carinha” que cursou medicina e residência?! E por falar em médico, houve um cirurgião geral, Dr. Paulo Moura, que me realizou uma pequena cirurgia para extração de um lipoma – algo que eu, sem dúvida, faria melhor.
Por fim, encerro meu diário com a certeza de que sou cronista muito superior ao escritorzinho Luís Fernando veríssimo. Conforme anunciei, na ausência da pessoa (nesse caso, por falecimento), é hábito eu a depreciar. E quanto ao editor deste Portal, a quem tanto bajulei para que me permitisse esta publicação – torço que ele não disponha de tempo para minha narração –, nutro por ele inveja que não caberia no mundo: pela história, carreira, família, fé. Maldito!

Flávio José Pereira da Silva [Flávio de Ostanila] é policial penal, escritor, bacharel em Direito e professor de Língua Portuguesa.
Fonte: JTNEWS
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