Ações para acesso à Cannabis Medicinal crescem 1.750% em quatro anos em São Paulo
Segundo o procurador de São Paulo, José Luiz de Moraes, essa escalada da judicialização da Cannabis reflete o tabu que envolve o tema e o consequente vácuo regulatórioO número de ações judiciais obrigando que o estado de São Paulo forneça remédios e produtos derivados de Cannabis cresceu quase 18 vezes (1.750%) em quatro anos, passando de oito, em 2015, para 148, no primeiro semestre do ano.
Nove em cada dez dessas demandas foram ingressadas por usuários de planos de saúde ou de serviços privados —só 10% são do SUS.
A escalada também é observada nos gastos, que já representam 9,5% do total despendido com todas as demandas de remédios requeridos via judicial. Em 2015, foram R$ 15,2 mil. Entre janeiro e junho deste ano, R$ 4,6 milhões.
No âmbito federal, também ocorreu aumento dos gastos com a judicialização da Cannabis. O Ministério da Saúde gastou em 2018 cerca de R$ 617 mil para comprar remédios, mais do que o dobro do ano anterior —R$ 277 mil.
Segundo Paula Sue de Siqueira, coordenadora de demandas estratégicas de saúde da Secretaria de Estado da Saúde, as ações obrigando o governo paulista a fornecer a Cannabis medicinal são relativas a doenças para as quais não há evidências científicas sobre a eficácia e segurança, entre elas síndrome de Down, esclerose múltipla e câncer.
“Para epilepsia refratária aos tratamentos convencionais, que é a indicação autorizada pelo CFM [Conselho Federal de Medicina], não houve nenhum pedido”, diz Siqueira.
As demandas judiciais contra o governo paulista são por produtos importados, de 45 tipos diferentes (apresentações e posologias). Os preços vão de R$ 400 a R$ 2.300, sem contar os custos envolvidos na importação.
Siqueira explica que, além dos gastos públicos com terapias não validadas cientificamente, essas demandas têm um outro problema. Por serem majoritariamente privadas, o estado não faz o acompanhamento desses pacientes.
“Não sabemos como está a evolução, se está melhorando, se apresentou algum efeito colateral ou se simplesmente a pessoa parou de tomar.”
Conforme revelou a Folha, farmacêuticas que atuam na área da Cannabis medicinal têm promovido educação médica e captado pacientes com suas ações de marketing.
No Brasil, a maioria dos pacientes que precisa de produtos à base de Cannabis só têm acesso a eles por importação autorizada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). São exigidos prescrição e relatório médico e um termo de responsabilidade, assinado tanto pelo médico quanto pelo paciente. As ações ingressadas contra o estado já contam com a liberação de importação.
Na Anvisa, a demanda por pedidos de importação também é crescente. Desde 2015, mais de 7.780 pacientes já obtiveram esse aval. As doenças mais citadas nos laudos médicos são epilepsia, autismo, dor crônica, doença de Parkinson e transtornos ansiosos.
Mas a agência já liberou a importação para mais de 60 indicações terapêuticas — embora, a maioria sem evidências científicas sobre a eficácia e segurança dos produtos.
Além das ações judiciais para a compra de remédios, há outras que pedem autorização para o cultivo doméstico da maconha medicinal. Ao menos 44 pessoas já obtiveram aval para isso, além de uma associação de pacientes da Paraíba, a Abrace Esperança, que planta e produz o óleo para 2.500 associados.
Segundo o procurador do estado, José Luiz de Moraes, que atua na coordenação judicial de saúde pública, essa escalada da judicialização da Cannabis reflete o tabu que envolve o tema e o consequente vácuo regulatório.
Ou seja, sem uma legislação que permita o cultivo da Cannabis para fins medicinais e a produção de medicamentos no país, as pessoas precisam recorrer a produtos importados, que não passam pelo crivo sanitário brasileiro.
Fonte: JT News com informações da Folha de S. Paulo
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