Os Estados Unidos sofrem dupla derrota no Afeganistão
A vergonha de serem enxotados vem acompanhada da ascensão da rival ChinaO Afeganistão provou, mais uma vez, ser o cemitério de impérios, denominação que recebeu por jamais ter sido dominado pelos impérios coloniais e neocoloniais.

Os afegãos, oito etnias subdivididas em tribos e clãs, derrotaram e expulsaram o poderoso exército britânico no Século 19. Já no século passado, derrotaram e expulsaram o Exército Vermelho Soviético, no prenúncio da falência do comunismo e do fim desse regime em toda a Europa e na África. Sobraram apenas Cuba e Coréia do Norte, dois bastiões comunistas com as pernas bambas.
Nominalmente, apenas, o comunismo ainda existe na China e no Vietnã, países governados por partidos comunistas que investem pesadamente no capitalismo como forma, bem sucedida, de evitar a falência econômica que derrubou o império soviético. Como dizia o reformista líder chinês Deng Xiaoping, “não importa a cor do gato, mas sim se ele caça os ratos”. E é isso que o capitalismo de partido único chinês tem feito muito bem.
Essa imensa economia, que disputa com os Estados Unidos a primazia mundial, investe pesadamente em infraestrutura nos países mais pobres, fornecedores de matéria-prima. Recriou a milenar Rota da Seda, que no passado distante ligou a China à Europa, e que foi imortalizada na literatura da Idade Média com as histórias do italiano Marco Polo.
E essa rota precisa passar por áreas turbulentas habitadas por povos muçulmanos. No oeste da China, na fronteira com o Afeganistão, vivem os Uigures, que sonham com uma independência impossível. A região em que vivem, além de rica em gás, do qual a China tem tanta necessidade, ainda está no caminho para os chineses se conectarem por terra com a Ásia Central.
Com a expulsão dos americanos do Afeganistão, essa fronteira sino-afegã vai permitir que caminhões com petróleo do Irã possam chegar à China. E, um dia, quem sabe, oleodutos e gasodutos ligarão o produtor iraniano ao grande consumidor chinês. O norte afegão separa justamente o petróleo iraniano da sempre faminta (por recursos) economia chinesa.
Com isso, os chineses ganham uma nova rota para se abastecer. Uma rota que não pode ser fechada pelos Estados Unidos e seus aliados do Golfo Pérsico em caso de conflitos geopolíticos.
Isso explica porque a derrota americana é dupla: ao serem enxotados após 20 anos de gastos imensos, os americanos não só fracassaram em estabelecer uma democracia capitalista no Afeganistão, como, ainda, veem os chineses acenarem com dinheiro e obras para esse miserável país muçulmano, um dos mais pobres do mundo.
A China não está interessada em cooptar ideologicamente os Talebãs, religiosos muçulmanos radicais. A China não está nem aí para o regime político que eles queiram adotar.
Os chineses, muito pragmáticos, se importam, sim, em trocar seus investimentos por paz na fronteira e pela promessa de que os Talebãs não darão apoio aos separatistas da etnia Uigur na China.
Os outros impérios, Britânico, Soviético e Norte-Americano, foram derrotados pelas armas. Mas essa nova força que tem interesses no Afeganistão não quer enviar tropas ou mudar o governo. A China acena com investimentos. Receita que tem tudo para dar certo.
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