PREFÁCIO

A maioria dos textos do livro SUSSURROS DO MUNDO, do escritor Flávio José Pereira da Silva, foi publicada no portal JTNEWS; outros foram divulgados pelo Sertão Atual.

Considero-me suspeito e paradoxalmente habilitado para prefaciar esta oportuna obra. Suspeito porque conheço o autor há duas décadas; cursamos Bacharelado em Direito na mesma turma; além de outras afinidades, somos confrades da Academia de Letras da Região de Picos; durante um período, dividimos apartamento e algumas dores, mas também poesia, música e cerveja. Essa intimidade, somada ao fato de eu conhecer os dois livros anteriores de meu amigo, habilita-me a descrever o terceiro, que tive o privilégio e o deleite de ler antes da impressão. 

Foto: ReproduçãoEsboço da capa do livro SUSSURROS DO MUNDO
Esboço da capa do livro SUSSURROS DO MUNDO

Em "Vinte mais uma histórias de humor", lançado em 2003, veem-se gracejos e descontração, que denunciavam a jovialidade e ingenuidade do escritor. Já "Um bocado de dor, um punhado de humor", publicado 14 anos após o primeiro, mantém o chiste — com o sarcasmo machadiano e acrescido de certa dose de tragédia, como se entregasse as aflições que supostamente o atingiram  no ínterim entre uma e outra produção. 

Passados dois decênios de seu trabalho inaugural, Flávio de Ostanila nos presenteia com 30 crônicas dignas de um homem maduro — apesar de ele nunca mencionar sua idade —, forjado nas batalhas diárias pela sobrevivência; feito nas lutas intermináveis por um mundo justo; concebido nas reflexões constantes para ser um cidadão, uma pessoa e um pai melhores. 

Foto: ReproduçãoContracapa do livro SUSSURROS DO MUNDO
Contracapa do livro SUSSURROS DO MUNDO

Oportuna, conforme fiz alusão no introito, porque — em época de "politicamente correto" e "cancelamentos" — "Sussuros do Mundo" é composto, em sua maior parte, de textos críticos: carência de amizades verdadeiras (Procura-se amigo); egoísmo (Tempo de despertar?); hipocrisia (Mais um Natal...); indignidade (Do tamanho de uma muriçoca); pobreza (Ser pobre é...); opulência (Sonhei que eu era um prefeito); insatisfação (Migalhas filosóficas); abatimento (Viver é...). 

Os exemplos acima dão uma amostra da vastidão de temas arrolados aqui por apenas um indivíduo, o qual aborda, no entanto, dilemas universais: mentira, traição, abandono, desilusão, ressentimento, inveja, fracasso, assédio, desigualdade, redenção, abnegação. A mim me parece que esses assuntos todos têm a ver com o tempo —  não é ele senhor da maturidade? que permite à caneta discorrer tão mansamente até mesmo acerca de enredos inquietantes ou perturbadores, conforme fez Flávio ao elogiar a morte em "Ensaio sobre a perfeição"! 

Foto: ReproduçãoEscritor Flávio José Pereira da Silva
Escritor Flávio José Pereira da Silva

Não os tentarei enganar. São crônicas ácidas, de tamanha densidade que só um espírito sensível, mas calejado, seria capaz de aplacar o peso dessas folhas. É exatamente isso que o autor faz: transforma sofrimento, que não é só dele, em arte; ajuda o leitor a conviver pacificamente com o inconciliável. 

Assim, ouso dizer que a mão, ora firme,  é também terna quando escreve "Aceita um café?"; singela em "Pingos de vida"; e amorosa — A vida é (Isa)bela! 

Caros leitores e leitoras, convido-os a "ouvir", no volume máximo, aquilo que vocês vêm sussurrando em suas próprias cabeças. Confesso que me emocionei com a leitura tal qual eu estivesse em um divã —  tornando essas despretensiosas páginas, porém impactantes, parte de mim. 

Que sejam parágrafos ou capítulos de vocês também! pois tudo o que está contido nessas linhas, por vezes amargas e tortas, é, na acepção mais realista, algo a que se deve chamar de viver. 

Francisco das Chagas de Sousa, professor, jornalista, engenheiro civil e ex-presidente da Academia de Letras da Região de Picos.

Fonte: JTNEWS

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