Petrobras perderá R$ 100 bi em valor de mercado com intervenção, dizem banqueiros

Para eles, desvalorização vai superar perdas com esquema de corrupção investigadas pela Lava Jato

Investidores deram início a um desembarque das ações da Petrobras. As perdas acumuladas até a sexta-feira (19/02) somam R$ 60 bilhões e devem chegar a R$ 100 bilhões nesta segunda (22/02) devido ao que chamam de intervenção do governo na companhia.

Foto: Agência BrasilPetrobras

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) indicou o general Joaquim Silva e Luna para o comando da estatal no lugar de Roberto Castello Branco após os últimos reajustes nos combustíveis.

Os números consideram a desvalorização das ações na B3, a Bolsa brasileira, e nas Bolsas estrangeiras onde são negociadas as ADRs (recibos de ações negociados nos Estados Unidos) da petroleira.

Somente na noite de sexta-feira (19/02), a Petrobras registrou R$ 28,2 bilhões em redução de valor de mercado no Brasil e outros R$ 30 bilhões com os papéis no exterior, segundo banqueiros e gestores de investimentos que falaram com a Folha sob anonimato.

Na avaliação de dois dirigentes de bancos, as perdas superam aquelas provocadas pelo esquema de corrupção na estatal durante os governos Lula e Dilma Rousseff (PT).

Eles lembram que, desde que o escândalo revelado pela Lava Jato se tornou público, em 2014, o valor da Petrobras encolheu na Bolsa de cerca de R$ 310 bilhões à época para algo em torno de R$ 225 bilhões, quatro anos depois, uma perda de R$ 85 bilhões.

Segundo esses banqueiros, em quatro dias a medida de Bolsonaro pode causar dano maior que a Lava Jato ao valor de mercado da companhia.

Consideram ainda que, do ponto de vista das perdas para o caixa, a própria Petrobras declarou prejuízos de R$ 50,8 bilhões —R$ 6,2 bilhões com propinas e outros R$ 44,6 bilhões com investimentos nos projetos investigados.

Para eles, o que está em jogo agora é a perda de credibilidade da companhia. O derretimento das ações é mais rápido porque, dizem esses executivos, houve manobra do governo para interferir na política de preços dos combustíveis, o que pode comprometer o resultado da empresa e o retorno para seus investidores.

O mercado teme também efeitos sobre o processo de venda de ativos da estatal, que visa reduzir o endividamento e aceleraria a estratégia da empresa para se tornar uma grande pagadora de dividendos.

A Petrobras recebeu proposta por apenas 1 das 8 refinarias que colocou à venda —o fundo Mubadala, dos Emirados Árabes Unidos, ofereceu US$ 1,65 bilhão (cerca de R$ 9 bi) por uma unidade na Bahia.

A possibilidade de reversão do plano de venda de ativos foi comemorada por opositores da gestão Castello Branco, que esperam também revisão na política de preços.

“De nada adianta a mudança na cadeira se não houver mudança da política de preços desastrosa”, diz o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros, Deyvid Bacellar.

Castello Branco foi nomeado no fim de 2018 e reconduzido para um mandato de dois anos em 20 de março de 2019. Diante da sua insistência em manter a Petrobras livre de qualquer interferência do governo, houve pressão para que renunciasse, mas ele não demonstrou essa disposição.

Na quinta-feira (18/02), a Petrobras anunciou reajustes de 10,2% e 15,1% para gasolina (o quarto do ano) e diesel (terceiro de 2021), respectivamente, a partir desta sexta.

No mesmo dia, Bolsonaro disse que promoveria mudanças na estatal e anunciou isenção de impostos federais sobre o diesel e o gás de cozinha.

Em reunião com ministros, mostrou insatisfação com Castello Branco, considerado “insensível” aos aumentos.

Fonte: Folha de S. Paulo

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