OMC estima que comércio internacional de bens deve cair até 32% este ano

A margem da previsão é ampla porque ainda há muita incerteza sobre a duração da crise

O comércio internacional de bens deve cair de 13% a 32% neste ano por causa da pandemia de coronavírus, estima a OMC (Organização Mundial do Comércio). A margem da previsão é ampla porque ainda há muita incerteza sobre a duração da crise, que tem “natureza sem precedentes”, afirmou a entidade nesta quarta (8).

Foto: Logomarca da Organização Mundial do comércio na sede da entidade, na SuíçaDenis Balibouse/REUTERS
Denis Balibouse/REUTERS

"Esta é antes de tudo uma crise de saúde, que forçou os governos a tomar medidas sem precedentes para proteger a vida das pessoas", disse o diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo.

Os economistas da OMC afirmam que, apesar dos limites para estimar a redução comercial, ela deve superar a da crise financeira global de 2008-2009.

“Esses números [de impacto econômico] são feios —não há como contornar isso", disse o diretor-geral da OMC, mas os países podem melhorar as chances de retomada com medidas para facilitar o comércio e com política fiscal e monetária:

“Manter os mercados abertos e previsíveis, além de promover um ambiente de negócios mais favorável em geral, será fundamental para estimular o investimento renovado de que precisaremos”.

Quase todas as regiões sofrerão quedas de dois dígitos nos volumes comerciais em 2020.

O comércio deve ser mais afetado em setores com cadeias de valor complexas, principalmente produtos eletrônicos e automotivos.

Relatório recente da consultoria Oxford Economics e do escritório Baker McKenzie previu 13% de queda para o comércio do setor automotivo no primeiro semestre deste ano, seguido por têxteis (8%) e eletrônicos (7%).

Como consequência, exportações da América do Norte e da Ásia devem ser as mais afetadas, como mostrou estudo da OCDE sobre o grau de impacto da pandemia em diferentes economias.

​Uma recuperação em 2021 é possível, “mas depende da duração do surto e da eficácia das respostas políticas”.

“Se os países trabalharem juntos, veremos uma recuperação muito mais rápida do que se cada país agir sozinho", afirmou o diretor da OMC.

Dois Cenários

Para estimar o desempenho futuro do comércio, a OMC considerou um cenário “relativamente otimista” (recuperação a partir do segundo semestre de 2020) e outro pessimista, com declínio inicial mais acentuado e recuperação mais prolongada e incompleta.

“Os resultados reais podem facilmente estar fora desse intervalo, tanto no lado positivo quanto no negativo”, alerta o relatório.

Segundo a OMC, uma forte recuperação é mais provável se as empresas e os consumidores encararem a pandemia como um choque temporário e único.

Nesse caso, os gastos com bens de investimento e bens de consumo duráveis ​​podem ser retomados perto dos níveis anteriores, quando a crise ceder.

Por outro lado, se o surto for prolongado ou a incerteza se espalhar, famílias e empresas devem conter gastos.

Em ambos os cenários, todas as regiões devem ter quedas de dois dígitos nas exportações e importações em 2020, exceto África e Oriente Médio, segundo as previsões da organização.

Fôlego Curto

O comércio de bens já estava perdendo força antes do ataque do coronavírus. O volume caiu 0,1% em 2019, pressionado pelas tensões comerciais e pela desaceleração do crescimento econômico. O valor em dólar das exportações caiu 3%, para US$ 18,89 trilhões (cerca de R$ 104 trilhões).

Segundo os dados da OMC, o Brasil manteve a posição de 27º exportador mundial de bens no ano passado (1,2% do total), de 28º importador (1%). As exportações brasileiras caíram 7% em 2019.

O valor das exportações de serviços comerciais aumentou 2% no ano passado, para US$ 6,03 trilhões (cerca de R$ 33 trilhões), mas perdeu fôlego em relação a 2018, quando a alta havia sido de 9%.

Perdidos para sempre

Neste ano, o setor de serviços também sofrerá impacto das restrições de transporte e viagens e do fechamento de lojas, restaurantes e casas de espetáculo, medidas tomadas para conter a transmissão do coronavírus.

Além do papel das cadeias de valor, o impacto no setor de serviços é uma das principais diferenças entre esta crise e a de 2008.

Os serviços não estão incluídos na previsão de comércio de mercadorias da OMC, mas a maior parte do comércio de mercadorias seria impossível sem eles (por exemplo, transporte).

Diferentemente dos bens, não existem estoques de serviços a serem retirados hoje e reabastecidos posteriormente.

Como resultado, declínios no comércio de serviços durante a pandemia podem ser perdidos para sempre, como campeonatos de futebol que foram suspensos, por exemplo.

No entanto, observa a OMC, alguns serviços podem se beneficiar da crise: tecnologia da informação, por exemplo, teve forte alta de demanda com as quarentenas e o trabalho remoto.

Fonte: Folha de S. Paulo

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