O desabafo de um Policial Penal paraense: da angústia ao amor! Por Demétrius Lemos

"Foram 14 dias lutando para sobreviver, e mais 7 dias para restabelecer 100% a saúde. Eu sobrevivi, mas infelizmente vários irmãos e irmãs de farda não tiveram a mesma sorte", desabafa Demétrius Lemos

Eu escolhi ser Agente Prisional [equivale agora a Policial Penal, nos termos da Emenda Constitucional Nº 104/2019]. Há 12 anos desenvolvo minhas atividades com dedicação, competência e amor. Sim, amor! Tenho orgulho da minha profissão e mesmo diante das adversidades busco sempre executar minha missão com excelência, não obstante não ser tarefa fácil.

Foto: Arquivo PessoalDemetrius Lemos, Policial Penal
Demetrius Lemos é Policial Penal, sobrevivente da COVID-19 e diretor do SINPOLPEN-PARÁ

Em 2015 contraí leptospirose no Centro de Recuperação Penitênciario do Pará I (CRPP-I). Foram 12 dias entre a vida e a morte. Fui desenganado pelos médicos, disseram para minha irmã se conformar porque nada mais podia ser feito. Contudo, no décimo segundo dia, Deus me deu o sopro de vida, me fez levantar do leito sem nem uma sequela para que eu pudesse prosseguir. 

Minha dedicação e sinceridade estava incomodando. Passei de agente prisional para vice-diretor, meu crescimento despertou a inveja,  a raiva, sentimentos desprezíveis que só contribuem para a destruição do ser humano; passei a ser alvo de perseguições.

Em 2017 arquitetaram uma grande armadilha para me derrubar, senti a pancada, o peso do ódio daqueles que se achavam os superiores por terem patente 'militar', e por esse motivo não podiam ser contrariados, mas eu sempre questionava, normal, eu carregava nas costas a unidade prisional. A armadilha foi bem feita, o objetivo: me prender com acusações falsas. Não conseguiram me prender, mas me tiraram a profissão que eu tanto amo!

Porém, Deus conhece o coração do homem, permitiu que eu caísse para que eu pudesse me levantar mais forte! Em 2018 fui aprovado no primeiro concurso público para Agente Prisional no Estado do Pará, uma porta se fechou para que outra maior se abrisse. 

A luta continua! Ser Agente Prisional não é para qualquer um! A primeira profissão mais perigosa da segurança pública. Todos os dias estamos frente a frente com os piores criminosos do Estado, mantemos a ordem e a disciplina, garantimos a guarda do apenado e os seus direitos de acordo com a Lei de Execução Penal. 

No dia 01 de agosto de 2019, entrei em exercício na Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Pará (SEAP-PA). Retornei na condição de servidor efetivo [agente prisional e no mesmo ano, em 04 de novembro fui alçado à condição de policial penal] com o desejo de fazer a diferença, lutar para que Justiça seja feita em nome de todos os servidores que durante anos foram desrespeitados! 

Foto: Arquivo PessoalDemétrius Lemos que sobreviveu à COVID-19 e luta para sobreviver às adversidades do ambiente prisional
Demétrius Lemos que sobreviveu à COVID-19 e luta para sobreviver às adversidades do ambiente prisional

Fundamos o Sindicato dos Policiais Penais do Estado do Pará - SINPOLPEN-PA, iniciamos os debates e logo percebemos que enfrentaríamos uma guerra de muitas batalhas, mas com a garantia de vitórias inevitáveis.

Temos um secretário que desvaloriza o servidor da casa e valoriza os de fora. É revoltante ver os policiais penais sem nenhum direito enquanto os policiais militares recebem, almoço, janta, água e suco, colocam os policiais penais para dormir em colchões no chão, enquanto os de fora se apossam do alojamento e camas inerentes e pertencente aos de casa. Que todos tenham dignas condições de trabalho, porém cada um no seu espaço profissional, é assim que deve ser.

O policial penal não pode fazer escolta sem um policial militar, mas segundo o governo nosso curso de formação foi padrão DEPEN! Será que nossa formação não nos capacitou para fazer escolta? Será que não somos capazes de estar dentro do bloco mantendo a ordem e a disciplina? Quem é que executa as atividades diárias nas unidades? Somos nós, policiais penais! Então como justificar tamanho desrespeito e desvalorização? 

Já sei, é lucrativo para os policiais militares, ganham gratificação de R$1800 reais para estarem no Sistema Penal, ganham várias diárias por mês com escoltas, só não fazem as escoltas que não são remuneradas. A luta não será fácil, sabemos disso, mas estamos dispostos a lutar nessa guerra! 

Por enquanto estamos lutando para nos mantermos vivos diante dessa Pandemia do COVID-19. Trabalhamos sem instrumentos de proteção  individual (EPI's), já perdemos vários companheiros, eu mesmo contrai a COVID-19! Deus permitiu aqui estar, então lutarei em ao lado de muitos guerreiros e guerreiras até a vitória!

Foto: Arquivo PessoalDemetrius Lemos, Policial Penal
Demetrius Lemos, Policial Penal por amor à profissão

Foram 14 dias lutando para sobreviver, e mais 7 dias para restabelecer 100% a saúde. Eu sobrevivi, mas infelizmente vários irmãos e irmãs de farda não tiveram a mesma sorte, já não estão entre nós para, como eu não somente contar a história, mas lutar para mudá-la. 

Uma Secretaria que faz uma política desumana, orgulha-se em anunciar uma jornada de trabalho de 24 X 48 horas [nenhum estado brasileiro impõe uma carga horária dessas a seus policiais], que desrespeita o direito à vida, que não garante que o Policial Penal tenha o direito a defender a sua vida e de sua família!

Uma Secretaria que durante 9 meses não teve a capacidade de confecionar uma carteira funcional! Só nos resta lutar, e acreditar que nossa luta trará muitos frutos, claro, proporcionalmente à nossa fé e determinação.

Eu amo minha profissão, agradeço a Deus por guiar meus passos e por me conceder a oportunidade de execer uma profissão que amo. Contudo, tenho vergonha da minha secretaria, mas, quiçá em um futuro breve, não existirá lugar para a "vergonha" que hoje me angustia!

Demétrius Lemos é Policial Penal e diretor do SINPOLPEN-PA.

Fonte: JTNEWS

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