'Governo Bolsonaro trouxe a ideia de supremacia branca', declara jurista Silvio Almeida

Para Almeida, existe no país governado por Bolsonaro uma espécie de projeto de violência contra minorias

O governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) agravou a questão racial no Brasil ao difundir a ideia de uma supremacia branca, segundo o jurista e filósofo Silvio Almeida.

Foto: Reprodução/TwitterJurista e filósofo Silvio Almeida
Jurista e filósofo Silvio Almeida

Autor do livro "Racismo Estrutural", Almeida explicou, em participação no programa UOL Entrevista, que o racismo no país não começou há quatro anos, porém, as ações do chefe do Executivo somadas às dinâmicas internacional e econômica pioraram a situação para os negros brasileiros.

"O governo de Jair Bolsonaro traz para o Brasil uma novidade que é a supremacia branca, ou seja, a ideia de que o Brasil é um país que tem que estabelecer uma linha de corte entre negros e brancos", disse.

Para Almeida, existe no país governado por Bolsonaro uma espécie de projeto de violência contra minorias. "É uma política declaradamente de extermínio de minorias; veja o que acontece com os povos indígenas. E isso só pode ser entendido se vermos as relações desse governo com a dinâmica internacional, inclusive com grupos políticos de extrema-direita, que são grupos supremacistas nos Estados Unidos e na Europa."

O jurista avaliou que o atual governo federal é o resultado de um país com tendências estruturais, incluindo o racismo, que faz com que caíamos sempre "na vala dos mesmos problemas".

"O governo Jair Bolsonaro é produto de uma sociedade racista, desigual, autoritária. É o ponto mais baixo onde já chegamos.", diz Silvio Almeida.

Destrinchando o conceito de supremacia branca, Almeida explicou que o Brasil foi constituído a partir de uma ideia de "superioridade branca", que teve como base teorias raciais para explicar a desigualdade e legitimar o poder das elites do país.

"Na América Latina, teve que se construir uma coisa que não existia: branco. A imigração e todas as relações de poder na região foram constituindo a ideologia do que é ser branco, o que os estudiosos chamam de branquitude", disse. "Mas, no Brasil, o problema é que não somos tão brancos quanto os brancos europeus."

Por isso, segundo o filósofo, as ideologias de branqueamento reforçaram a ideia de que era preciso ser "cada vez mais branco" para se atingir um patamar de desenvolvimento próximo aos das chamadas nações civilizadas — daí a "superioridade branca" brasileira.

"Qual a novidade que o governo Bolsonaro traz? Pela primeira vez, por conta de uma dinâmica internacional — é importante entender [o papel da] geopolítica nisso e também a degradação das condições econômicas sob o neoliberalismo —, saímos da ideia de superioridade branca para a ideia de supremacia branca", afirmou Almeida.

"O Brasil sempre foi violento com minorias, sempre foi um país racista, mas esse governo torna as coisas muito mais agudas e piores do que se pode imaginar."

A redundância do racismo estrutural

Silvio Almeida explicou o termo racismo estrutural, esclarecendo que não se trata de um tipo específico de racismo. "É o racismo de maneira geral. O que o estrutural acentua é a ideia de que o racismo não é um ato que advém da vontade dos indivíduos, há uma questão comportamental", disse. "O racismo é o resultado de um conjunto de condições e é um processo histórico e político", acrescentou.

O jurista afirmou que o racismo é um processo político porque envolve relações de poder, não se tratando somente de uma questão moral.

"Ao contrário do que as pessoas acham, o racismo não é um produto do racista: o racista que é produzido pelo racismo.", ressaltou Silvio Almeida.

"Ou seja, o racismo é um conjunto de condições de subalternidade em que faz sentido falar de raças em posições superior e inferior."

Por isso, Almeida apontou que não faz sentido as pessoas falarem "estamos sofrendo racismo estrutural".

"Isso é uma obviedade, uma redundância. Porque o racismo só existe por conta de uma série de estruturas sociais que fazem com que a raça se reproduza e tenha condições de se manter como elemento que dá sentido para vida na sociedade em que vivemos."

Confira a entrevista completa:

Fonte: UOL Notícias

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