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Sibiu: a cidade de olhinhos travessos e carinhosos

Sibiu não é xibiu, não, senhor

Foto: Coleção de fotos compartilhada pelo Grupo Bulgária / Romênia, Embarque Viagens e Turismo
Olhinhos pidões

Ei, meninos! Ei, meninas! Adolescentes, senhores e senhorinhas, velhos e velhinhas, mantenham-se paradinhos. Nenhum gesto abrupto ou doce. Imóveis. Fechem os olhinhos com lentidão e vagar. Concentrem-se. Pensem nas coisas que mais lhe dão paz e encanto. Sonhem. Descansem. Pouco a pouco, sob meu comando, abram os olhinhos. Verão o que vi. Verão os que muitos viram por aqui, na longínqua Romênia, alavancada no centro-leste do continente europeu, na parte nordeste das Bálcãs, sob o banho morno ou frio do Mar Negro. O que vi? O que muitos viram?

Uma cidade relativamente pequena – Sibiu – com meros 121,6 km² de área e, mesmo assim, a terceira maior cidade da Transilvânia. Segundo dados de 2017, com cerca de 170 mil habitantes, muitos dos quais de ascendência alemã, Sibiu data de mais de 800 anos, graças aos esforços dos colonos alemães de então – os chamados Saxões da Transilvânia – o que justifica a ascendência da arquitetura germânica e conduz a uma densidade geográfica de, mais ou menos, 1.109,98 hab. / km². Sim, mas onde está o espanto?

Seus olhos ou nossos olhos avistarão um delicado panorama de casinhas ou casarões estruturados em três praças – Praça Muito Pequena; Praça Pequena; Praça Muito Pequena –com mil olhinhos. É lindo de se ver. É possível que os olhinhos cuidem de amenizar a escuridão nos dias de inverno. É possível que os olhinhos cuidem da vida dos vizinhos. É possível que os olhinhos estejam lá para assegurar a beleza da cidade! Na verdade, os olhinhos de Sibiu são janelas-sobrancelhas que se postam faceiras nos telhados multicoloridos. Foram eles instalados entre os séculos 15 e 19 como sistema de ventilação para os sótãos. Faz sentido, como também faz sentido chamar Sibiu de “A cidade onde as casas não dormem”, em vez de gracejos brasileiros de que Sibiu pode ser xibiu, numa alusão a uma das partes do corpo feminino, formalmente a vulva (admirada por muitos homens), mas que, dentre as mil denominações que rolam por aí, estão xoxota, xereca, periquita e lá vai mais, o que dá vazão à brincadeira inocente de chamar nossa guia romena de “Xibi” ou algo que assim o seja.

Foto: Coleção de fotos compartilhada pelo Grupo Bulgária / Romênia, Embarque Viagens e Turismo
Olhinhos pidões

Chegamos de Curtea de Arges, à margem direita do rio Argeș até Sibiu, ainda hoje, um dos centros universitários romenos de importância. Além dos olhinhos plenos de vida, muita coisa para ver e curtir! Sibiu encanta a qualquer um por suas construções medievais, seu centro histórico, que conserva monumentos e atrações mil; e sua Lutheran Evangelical Cathedral & Tower, uma das igrejas góticas mais famosas do país. Construída no século 14, a Lutheran Evangelical... é um importante marco religioso e histórico na cidade, até por ser o provável local onde o filho do Conde Vlad III Drácula ou Vlad Tepes, príncipe da Valáquia, ou, simplesmente, Vlad, “O Empalador”, recorrendo a técnicas cruéis para empalar adversários, foi assassinado, alimentando, até os dias de hoje, crenças populares ligadas aos strigoi e aos moroi, que fazem a festa turística em torno da lenda do Conde Drácula e do folclore romeno, inclusive em série de livros de romance paranormal, Vampire Academy, da autoria da norte-americana Richelle Mead.

Dizem que os strigoi são vampiros mortos-vivos ou para lá de mortinhos da silva, fortes e perigosos, que deixam seus confortáveis túmulos para atormentar os vivos e extrair a vitalidade dos pobres seres humanos. São eles versões malignas dos vampiros moroi, vivos, bons e até com potencial mágico, em oposição aos strigoi, que perderam qualquer traço de humanidade e se tornaram ávidos por sangue assumindo a feição de demônios ou de bruxas, caçando os moroi para conseguir poder e mais poder. Para afastar os infortúnios, sibiuenses ou romenos organizam rituais tão malucos quanto a perversão dos maus, a exemplo de cravar estacas no coração de pretensos cadáveres, de usar dentes de alho ou de jogar água benta. E, pergunto: neste momento, onde estão os olhinhos travessos e carinhosos?

Foto: Coleção de fotos compartilhada pelo Grupo Bulgária / Romênia, Embarque Viagens e Turismo
Catedral Luterana Evangélica de Santa Maria

Há, ainda, a Catedrala Ortodoxa Sfânta Treimeã! E um lembrete que os olhinhos não deixam esquecer! Cerca de 90% dos romenos pertencem à Igreja Ortodoxa Romena. A liberdade religiosa é direito constitucional. Assim, protestantismo e catolicismo romano e grego também estão presentes, ao lado de uma minoria muçulmana e judaica.

Ainda em Sibiu, estão o Muzeul Astra e a Praça Grande (Piata Mare). Mas para quem acha que os olhos das crianças, adolescentes, adultos e velhinhos já viram tudo, vai se deslumbrar com a lenda da Bridge of lies, que se desnuda diante de mais olhinhos travessos e carinhosos. A “Ponte das Mentiras”, de ferro, conserva seu charme diante da profusão de flores que a deixam muito formosa em estações harmoniosas, como a primavera. Seu apodo – “Ponte das Mentiras” – advém do fato de abrigar casais apaixonados com suas eternas e, quase sempre, efêmeras juras de amor; de atrair negociantes para fechar contratos; e, para variar, fechar conchavos políticos. Bem pertinho da Ponte, eis a Piata Micã, a Praça Pequena, onde estão edifícios históricos, cafés, restaurantes, bares e suvenires.

Foto: Coleção de fotos compartilhada pelo Grupo Bulgária / Romênia, Embarque Viagens e Turismo
Ponte da Mentira e os olhinhos vigilantes

Também foi encantador, apreciar bandos e mais bandos de corvos. Muitos e muitos! Lindos de viver por seu ineditismo. Afinal, na vizinha Bulgária, não são tão comuns! Muito belo confrontar surpresas da natureza! Tão indescritível!

Foto: Acervo pessoalHordas de corvos
Hordas de corvos

Mencionamos, ainda, a Torre do Conselho (Turnul Sfatului), que propicia uma vista fantástica da cidade, apesar de fechada por janelas de vidro; e o Brukenthal National Museum, sem esquecer que Sibiu instiga longas caminhadas aliadas às excursões de terror, até porque as lendas vampíricas da região se prestam às festas de Halloween a qualquer época. E haja perna para quem quer! É o momento de enganar os olhinhos cuidadosos, mas esquecê-los, jamais! Basta trapacear um pouquinho que seja!

AGRADECIMENTOS

Sinceros agradecimentos à Embarque Viagens e Turismo pelo convívio ao longo da trajetória trilhada pela Grupo via Bulgária / Romênia, e, sobretudo, pela troca de fotos entre os companheiros. GRATA!

Foto: Graça Targino
Graça Targino

Doutora em Ciência da Informação, Universidade de Brasília, e jornalista, finalizou seu pós-doutorado junto ao Instituto Interuniversitario de Iberoamérica da Universidad de Salamanca, Espanha. Sua experiência acadêmica inclui, ainda, cursos em países, como Inglaterra, Cuba, México, França e Estados Unidos. Tem produzido artigos, capítulos e livros em ciência da informação e comunicação, enveredando pela literatura como cronista. Depois de vinculação com a Universidade Federal do Piauí por 25 anos e com a Universidade Federal da Paraíba por 14 anos, hoje, dedica-se à literatura, especificamente, ao jornalismo literário e a crônicas.

Fonte: JTNEWS

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