A organização do G20 no Rio: Seus prós e contra; por Henry Michel Anglade
Sediar um evento tão importante pode apresentar muitos desafios e exigiria um planejamento cuidadoso para garantir que os benefícios superem os custos e riscos envolvidos.O G20 é um fórum internacional composto pelas maiores economias do mundo e a União Europeia. Criado em 1990, para buscar soluções para uma série de problemas econômicos daquele período. Porém, a primeira reunião presencial entre os líderes aconteceu somente em 2008. E, segundo dados apresentados pelo BID, em 2021, juntas, as 19 nações e a União Europeia, que constituem o G20, representavam mais ou menos 80% da economia global. Assim, sediar uma de suas reuniões pode ter uma série de impactos econômicos para o país anfitrião. Com efeito, apesar de sua influência regional e internacional, o Brasil ainda não havia sediado uma reunião do G20. Portanto, ter a oportunidade de ser o país sede de tal evento, além de uma imposição de si para os demais países, é tambem um sinal de relevância do país sede a nível internacional. A minha reflexão visa oferecer uma análise especulativa sobre como isso poderia afetar a economia brasileira.
O primeiro elemento é a Visibilidade Internacional: sediar o G20 traria ao Brasil uma grande quantidade de líderes mundiais, figuras importantes e mídia internacional. Isso aumentaria a visibilidade do país no cenário global, o que poderia gerar interesse de investidores estrangeiros e promover o turismo. Segundo Eduardo Munhoz Svartman na seu documento “O BRASIL VISTO DE FORA: Os think tanks e as representações sobre o Brasil num mundo em mudança (2000-2020)” o Brasil que vinha numa dinâmica de crescimento nos dois primeiros mandatos de Lula, perdeu gradualmente seu protagonismo a nível internacional com o governo interrompido de Dilma e a ascensão de Bolsonaro ao poder. Este último aliás, é visto a nível internacional como o presidente que fez regredir o Brasil no seu crescimento econômico e nas suas relações com outros Estados especialmente os da América Latina e da Europa. Tomando a liberdade de acrescentar um elemento importante não considerado pela análise de Munhoz, eu acredito que seja importante considerar o COVID 19 como um elemento primordial desta regressão econômica não somente do Brasil, mas a nível mundial.
Um segundo aspecto importante e positivo da organização do G20 no Brasil é a Oportunidade de Networking e Diplomacia: O evento proporcionaria ao Brasil a oportunidade de fortalecer relações diplomáticas com outras nações e estabelecer conexões com líderes empresariais e financeiros de todo o mundo. Isso poderia levar a acordos comerciais bilaterais e colaborações em áreas estratégicas. Ainda segundo Munhoz, com a eleição do Bolsonaro, o Brasil perdeu múltiplas oportunidades de negócios com países importantes da Europa e da Asia. Assim, a organização do G20, aqui, pode impulsionar novas negociações e retomar acordos que foram esquecidos durante o governo de Jair Messias Bolsonaro. Vale lembrar que estamos vivendo uma era de guerra comercial entre as duas maiores potências mundiais e decisões importantes de cooperação pode trazer importantes resultados para o país.
O terceiro aspecto positivo a ser considerado é o Estímulo Econômico Local: a realização do G20 exigiria um investimento significativo em infraestrutura, segurança e serviços para acomodar os delegados e participantes. Isso poderia impulsionar setores como construção civil, turismo, hotelaria e serviços relacionados. A título de exemplo podemos considerar o show da cantora Madonna no Rio de janeiro no dia 04 de maio de 2024. Segundo a prefeitura do Rio, o evento patrocinado trouxe grande benefício financeiro para o país, em espacial para a cidade e o Estado de Rio de Janeiro. Hotéis, transporte e comércio, todos foram beneficiados. Sem esquecer de mencionar o setor turístico. Se o G20 tem um objetivo diferente do caráter festivo oferecido pelo show da Madonna, podemos acreditar que a presença dos líderes dos Estados mais ricos do mundo pode ser mais uma oportunidade de impulsionar a economia do país de forma mais planejada e duradora a partir de grandes investimentos em vários setores do país.
O quarto elemento a considerar é a Promoção de Temas e Interesses Nacionais: o Brasil poderia aproveitar a oportunidade para promover suas prioridades e interesses em questões globais, como comércio, mudanças climáticas, segurança alimentar e desenvolvimento sustentável. Vale lembrar quem em 1992, com a organização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento realizada no Brasil, na cidade de Rio de Janeiro (Rio 92), foi definida uma agenda a ser cumprida com o objetivo de salvar o meio ambiente, criando políticas ambientais com metas definidas a serem cumpridas até 2050. Entre elas, podemos destacar as mudanças necessárias aos padrões de consumo especialmente em relação aos combustíveis fósseis - como petróleo e carvão mineral - a proteção dos recursos naturais, o desenvolvimento de tecnologias capazes de melhorar a gestão ambiental dos países; o direcionamento de atividades que protejam e renovem os recursos ambientais, no qual o crescimento e o desenvolvimento dependem; o estabelecimento de áreas de ação: a proteção da atmosfera; o combate ao desmatamento; a perda de solo e a desertificação; a prevenção contra a poluição da água e do ar; a detenção da destruição das populações de peixes; e a promoção de uma gestão segura de resíduos tóxicos.
Tomo a liberdade de destacar que Rio 92 foi muito além das questões ambientais. Houve uma preocupação direta e indireta em abordar os padrões de desenvolvimento que causam danos ao meio ambiente que precisavam ser combatidos, como a pobreza e a dívida externa dos países em desenvolvimento; os padrões insustentáveis de produção e consumo; as pressões demográficas e a estrutura da economia internacional. Assim, a Organização do G20 no Rio seja a oportunidade perfeita para retomar pontos importantes do Rio 92. Espero que os nossos líderes possam aproveitar esta oportunidade para fazer uma boa promoção do país e temas importantes para as políticas públicas nacionais.
Além desses elementos positivos apresentados, sediar um evento tão importante pode apresentar também muitos desafios, como custos elevados e superfaturamentos, pressões de segurança, protestos e críticas internacionais. Além disso, se a infraestrutura não estiver preparada para atender às demandas do evento, isso poderia resultar em problemas logísticos e danos à reputação do país. Em resumo, a organização do G20 no Brasil poderia ter uma série de impactos positivos, incluindo maior visibilidade internacional, oportunidades econômicas e diplomáticas, e estímulo ao desenvolvimento local. No entanto, também apresentaria desafios e exigiria um planejamento cuidadoso para garantir que os benefícios superem os custos e riscos envolvidos.
Fonte: JTNEWS
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