A AVAREZA; por Brandão de Carvalho

O avarento tem um só objetivo: ganhar lícita ou ilicitamente as riquezas do mundo material para escondê-las aos olhos de todos

Nossa crônica de hoje (25/2) se reveste de uma reflexão sobre nossos bens materiais, luta que empreendemos para colhermos o fruto de nosso trabalho, para que possamos ter uma vida digna visando a nossa alimentação, saúde, educação, lar, profissão, pelo nosso suor derramado, as labutas de superação das dificuldades, numa corrida que nunca pára, muitos até a idade provecta.

Foto: Jacinto Teles/JTNEWSBrandão de Carvalho
Brandão de Carvalho é escritor e desembargador do TJ-PI

É exatamente dentro dessa perspectiva que algo obscuro e reprovável vai se fortalecendo dentro de nosso espírito, a avareza, que, consciente ou inconscientemente, vai se avolumando nos corações mais incautos.

O que é etimologicamente o avaro? É o sórdido excessivamente apegado ao dinheiro, popularmente apelidado de muitos adjetivos, como muquirana, pão-duro, resmelengo, socrancra, unha-de fome, zuraco, dentre tantas outras denominações tacanhas.

O avarento tem um só objetivo: ganhar lícita ou ilicitamente as riquezas do mundo material para escondê-las aos olhos de todos, entesourando e muitas das vezes passando as maiores necessidades como se miserável financeiramente fosse.

Temos muitas pessoas que agem na plena avareza, num submundo que não deveria habitar, pobreza de espírito é a sua opção de vida. O avaro tem dinheiro, mas passa fome, tem filhos e deixa-os analfabetos, residem em casas rústicas, sem um lar condigno, adoece e não paga plano de saúde, morre e não tem lugar pra ser velado, não tem caixão nem sepultura para enterrá-lo, tampouco um local apropriado para a cremação.

Para a satisfação dos herdeiros, após o sétimo dia, chega a hora de descobrir os haveres: contas em bancos, terrenos não declarados, ouro e prata enterrados e assim por diante.

Bem a propósito, cito o versículo de Marcos 8.36 que diz: "Pois, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?". O sentido aqui esposado pelo evangelista não é tão somente a perda espiritual, mas também da dignidade, da personalidade, da vida em abundância, porquanto tudo isso isso é ignorado pelo avarento.

Aproveitemos o que amealhamos na vida para nosso deleite corporal e espiritual, sem o mal da prodigalidade, que tudo acaba, de que tudo usufrui, que tudo dissipa.

Lembro aqui da parábola do filho pródigo do evangelista Lucas 15.11-32. O filho mais novo a quem foi dado sua herança, perdendo toda a sua fortuna, desperdiçou-a distante em outro país e, diante de uma grande fome, vindo a cuidar de porcos, comendo com eles as alfarrobas que sobravam.

Com todos esses infortúnios, volta pra casa, é aceito beijado e abraçado pelo pai que teria abandonado por bens materiais que lhes foram compartilhados.

Essa nossa reflexão de hoje, tem como mote a nossa sapiência em administrar nossos bens materiais para nosso deleite e de nossas famílias, sopesando tudo aquilo que seja necessário a nossa sobrevivência física, mas nunca enterrando tesouros porque devem ser usados em nosso benefício.

Ivan Teorilang conceitua o avarento como: "por mais dinheiro que tenha guardado, aparenta viver sempre na pobreza; ele nunca demonstra o que possui, para deixar claro o fato de nada ter para doar".

*Brandão de Carvalho é escritor, membro da Academia Piauiense de Letras Jurídicas e desembargador do Tribunal de Justiça do Piauí.

Fonte: JTNEWS

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