Sheherazade acerta em comentário sobre Sistema, mas comete injustiça aos Agentes Prisionais

Integrantes da Execução Penal criticam comportamento da apresentadora ao generalizar sobre os agentes

A jornalista Raquel Sheherazade polemizou no último dia 30 ao usar seu canal no YouTube, no vídeo "Monstros contra Monstros", para falar da tragédia de Altamira (PA), e terminou atingindo a categoria dos Agentes Penitenciários, em comentário generalizado.

No vídeo ela usa dos eventos acontecidos no presídio [a morte de 57 pessoas, sendo 16 por decapitação], para afirmar que "até mesmo policiais, que são agentes da lei, se bandearam para o lado da criminalidade", 

Foto: Rachel Sheherazade/ Redes SociaisJornalista usar Youtube para difamar a categoria dos Agentes Prisionais
Raquel usa YouTube para agredir Agentes Prisionais

Sheherazade, usou da plataforma para falar que "todo mundo sabe que armas e drogas circulam livremente nas cadeias sob o nariz, sob o olhar do Estado e com a conivência dos agentes prisionais", afirmação infeliz, pois, assim como no meio dela [de apresentadores de televisão], existem "bandidos", mas, não é algo que deve ser generalizado.

A Agente de Segurança Penitenciária do Estado de São Paulo, Fabi Castilho, postou ontem (01/08), no YouTube um vídeo em resposta à jornalista. Em seu relato ela demonstra a indignação pelas palavras da jornalista e espera uma retratação. 

"Não adianta você ter mestrado, doutorado, ser PhD em Segurança de Presídio se você nunca entrou em uma Unidade, se você não vivencia o dia a dia de um agente do sistema prisional. Vejo muitos estudiosos tentando encontrar uma forma para resolver o "caos" dos presídios do nosso país. Porém, o óbvio não fazem, que é ouvir o agente penitenciário, aquele que é conhecedor, que passa dias, meses e anos num presídio, colocando em risco sua vida em defesa da sociedade", declarou Fabi. 

A reprovação é mostrada em números: o vídeo da jornalista possui mais de 8 mil dislikes, além de incontáveis comentários mostrando como o comportamento dela foi imprudente.

Procurado pela Redação do JT News, o agente penitenciário, diretor da Agepen-Brasil e ex-conselheiro do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), Beto Neves, comentou o vídeo publicado por Raquel assim: "A jornalista até acertou quando dirigiu sua crítica ao modelo de administração penitenciária brasileira, com a falta de ação da gestão pública para combater o problema da superlotação carcerária é as ações de organizações criminosas dentro dos presídios. Mas falha, absurdamente, quando generaliza como corrupta uma categoria que tem sido, verdadeiramente, o único braço do estado que, a duras penas e sem as mínimas condições de trabalho, segura em suas mãos essa bomba relógio que são os presídios brasileiros. Essa mesma bomba relógio que, quando explode, tem como vítima também o próprio agente penitenciário."

Foto: JT NewsBeto Neves, Agente penitenciário, diretor da Agepen-Brasil e ex-conselheiro do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária
Beto Neves, diretor da Agepen-Brasil e ex-conselheiro do CNPCP

Outro entrevistado pela Redação do JT News, foi o presidente da Associação Nacional dos Agentes Penitenciários (AGEPEN-Brasil), Leandro Allan, agente penitenciário do Distrito Federal, que manifestou o descontentamento a respeito do que foi proferido por Sheherazade, “Infelizmente, muita gente sem conhecimento da realidade fala sobre o sistema penitenciário, mas a Agepen-Brasil nasceu para mudar esta realidade e levar aos agentes penitenciários de todo país o devido reconhecimento e valorização".

Foto: JT NewsPresidente da AGEPEN-Brasil, Leandro Allan
Presidente da Agepen-Brasil, Leandro Allan, que é agente prisional do Distrito Federal


 Confira a Nota de Repúdio da Agepen-Brasil acerca da declaração da apresentadora

A Associação Nacional dos Agentes Penitenciários, AGEPEN-BRASIL, repudia veementemente as acusações caluniosas feitas, nesta quarta-feira (31/07), pela jornalista Rachel Sherazade por meio de um vídeo que circula nas redes sociais.
Ao comentar a responsabilidade do Estado na tragédia que houve num presídio de Altamira (PA), Sherazade acusa os servidores penitenciários brasileiros de serem tão criminosos quanto os detentos.
A jornalista falou uma verdade ao firmar que os presídios do país “são masmorras” e que o Estado é responsável pelo caos e pelo crescimento do crime organizado dentro das cadeias. Mas ela cometeu uma tremenda leviandade ao atribuir esse caos aos servidores que nos presídios arriscam suas vidas diariamente.
Somos vítimas do mesmo descaso do Estado. Trabalhamos em péssimas condições e com baixo efetivo e mesmo assim, conseguimos manter as penitenciárias em funcionamento. E só quem está lá sabe a que custo. Muitas vezes, tiramos dinheiro do próprio bolso para manter unidades penais em condições minimamente salubres para presos e agentes. Dedicamos a nossa vida para permitir que a vida da população seja resguardada de mais violência.
Infelizmente a corrupção é um problema endêmico do país e que assola todas as áreas públicas e privadas, inclusive o sistema penitenciário. Mas isso está longe de significar que somos todos corruptos e criminosos. Muito pelo contrário. Nós, agentes penitenciários, somos uma massa de trabalhadores altamente responsável e que se dedica dia e noite para que a sociedade viva em segurança. Não compactuamos com a corrupção e nem a toleramos. Tanto é verdade que quando um agente penitenciário é pego cometendo qualquer ilegalidade isso se dá porque seus pares o denunciam por discordância com a prática.
Não são os agentes penitenciários que provocam a superlotação. Ao contrário. Somos vítimas do superencarceramento, que todo dia lota ainda mais os presídios do país, sem que para isso sejam contratados mais servidores para custodiar tantos presos. Presídio superlotado ameaça as nossas vidas!
Sherazade erra ao atacar os trabalhadores. Se ela realmente está preocupada com o sistema penitenciário, deve dar voz aos agentes que diariamente pedem isso ao Estado.
Esperamos que ela se retrate junto à categoria. Suas generalizações em nada contribuem com a construção de um sistema penitenciário mais justo e humano. Por fim, A Agepen-Brasil informa que em nome de todos os Agentes Penitenciários do país, lançará mão dos meios legais para a responsabilização dessa jornalista pela ofensa moral que causou à toda nossa categoria profissional.

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