Noélia Sampaio

Advogada, professora, especialista em direito do trabalho, membro das Comissões de Direito do Trabalho e da Mulher OAB/PI, membro da Comissão feminista da ABRAT, ativista em defesa dos direitos da Mulher, co-autora do Livro: Mulheres Desvelando o Cotidiano e seus Múltiplos Desafios.
Advogada, professora, especialista em direito do trabalho, membro das Comissões de Direito do Trabalho e da Mulher OAB/PI, membro da Comissão feminista da ABRAT, ativista em defesa dos direitos da Mulher, co-autora do Livro: Mulheres Desvelando o Cotidiano e seus Múltiplos Desafios.

Onde você ver o seu Racismo? Por Noélia Sampaio

É necessário que mudemos radicalmente quanto a isso. Racismo não é só preconceito, é crime. Não há racismo reverso

O racismo na nossa sociedade é um processo histórico, que até hoje ainda modela ou regula algumas situações. Ainda que algumas pessoas digam que se trata de “mimimi”, não precisa se esforçar muito, basta dar uma busca superficial na internet ou redes sociais, para se deparar com casos recentes de racismo, sem contar com aqueles que você ouve falar no seu convívio. 

Foto: Domínio PúblicoAções contra o Racismo devem ser permanentes em toda a sociedade
Ações contra o Racismo devem ser permanentes em toda a sociedade

O recente caso velado e ao mesmo tempo escancarado, trata-se do padrasto da famosa cantora Marilia Mendonça, que foi “confundido” com segurança do velório. É tão “natural” se conceber que um homem negro e forte, em um velório de uma pessoa famosa, só poderia ser um segurança, não É?  Essa visão estereotipada é que carregamos em cada um (a) de nós. A psicologia explica isso como viés inconsciente, que é um conjunto de prejulgamentos sociais, sutis e acidentais, que todas as pessoas mantêm sobre diferentes grupos de pessoas. É o “olhar automático” para responder a situações e contextos para os quais você é treinado (a) culturalmente. É como uma programação no cérebro.

É necessário que mudemos radicalmente quanto a isso. É claro que na nossa sociedade existe uma espécie de “hierarquia”, onde por essa visão automática, as pessoas negras nunca deverão ou não poderão estar em uma posição de igual. Um corpo negro é sempre enxergado em espaços de inferioridade, para subserviência, mas não como protagonistas de histórias, e assim, são colocados à margem da sociedade.

Não adianta se falar que isso não existe, que há uma igualdade formal entre as pessoas, porque os números revelam exatamente o contrário.  Há um contraste explícito entre o perfil da população brasileira e sua representatividade nos setores da Sociedade. Vejamos: A maior parte dos habitantes é negra (54%), contudo, quase todos (96%) os (as) parlamentares são brancos (as). Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2019), dos 657,8 mil presos, cerca de 438,7 mil são negros (ou seja, 66,7%).  De acordo com o IBGE, nas empresas brasileiras, menos de 30% dos cargos de liderança são ocupados por pessoas negras. O percentual é baixo e ainda sofreu queda. Em 2018, a população preta ou parda ocupava 29,9% dos cargos gerenciais. Em 2019, esse índice caiu para 29,5%. Isso apenas para exemplificar.

Por mais que haja debate sobre esse tema e o combate tenha evoluído, tanto com a criação de leis como com a concepção de políticas públicas, é essencial uma maior conscientização sobre o racismo. E é discutindo e debatendo pontos de vista, seja no meio familiar, na escola, do trabalho, na associação, na instituição etc, que caminhamos rumo à democracia racial.

Racismo não é só preconceito, é crime. Não há racismo reverso.

Se você não ver o racismo que habita em você, procure desenvolver esse compromisso com a democracia, assim estará proporcionando um melhor desenvolvimento para a humanidade.  Como diria Silvio Almeida, que é um dos principais pensadores brasileiros da atualidade, além do mais é filósofo, advogado, professor universitário e estudioso das relações raciais no Brasil: “Temos de nos livrar dessa alma de senhor de escravo”.

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