Silvio Barbosa

Professor concursado do Curso de Comunicação Social da UFPI, campus Teresina. Doutor em Comunicação e Mestre em Filosofia do Direito é advogado e jornalista, com 24 anos de experiência de mercado, tendo trabalhado em empresas como Rede CBS (Estados Unidos), Globo, Bandeirantes, Record e TV Cultura. Autor dos livros TV e Cidadania (2010) e Imprensa e Censura (no prelo) e dos documentários Vale do rio de lama - no rastro da destruição, e Sergio Vieira de Mello, um brasileiro em busca da paz no mundo.
Professor concursado do Curso de Comunicação Social da UFPI, campus Teresina. Doutor em Comunicação e Mestre em Filosofia do Direito é advogado e jornalista, com 24 anos de experiência de mercado, tendo trabalhado em empresas como Rede CBS (Estados Unidos), Globo, Bandeirantes, Record e TV Cultura. Autor dos livros TV e Cidadania (2010) e Imprensa e Censura (no prelo) e dos documentários Vale do rio de lama - no rastro da destruição, e Sergio Vieira de Mello, um brasileiro em busca da paz no mundo.

Nasce mais um canal de notícias, a CNN Brasil

Mas a que será que ela veio?

A CNN Brasil nasceu no domingo, 15 de março, como uma franquia de uma marca poderosa no telejornalismo mundial, a rede norte-americana CNN, criada, em 1980, pelo bilionário Ted Turner para ser o primeiro canal internacional do mundo, com escritórios pelos quatro cantos do planeta (provocação aos terraplanistas!)  e, por isso mesmo, agilidade para cobrir qualquer fato em qualquer país, até mesmo em Cuba, onde está presente desde 1997.

Foto: CNNSede da CNN em Atlanta, Estados Unidos
Sede da CNN em Atlanta, Estados Unidos

O novo canal de notícias, sediado em São Paulo, não é mera sucursal da CNN de Atlanta, estado da Geórgia. É, na realidade, uma afiliada, de propriedade de brasileiros, que paga para usar a marca, podendo exibir os programas internacionais (dublando ou legendando) mas tendo que obedecer aos códigos da matriz norte-americana.

O altíssimo investimento para montar um novo canal – o último a ser criado foi a Record News, em 2007 – num momento de crise econômica, com anunciantes em falta, levanta algumas questões sobre o que está por trás da operação. Oficialmente, o dinheiro vem do empresário do ramo da construção civil Rubens Menin, segundo maior patrocinador de campanhas eleitorais nas últimas eleições. Apesar de ter cacife para esse investimento, o mercado jornalístico aposta que ele seja apenas a face visível de uma sociedade com o Bispo Edir Macedo, da Igreja Universal, dono de outro conglomerado midiático, a Record.

Como sinal disso, aponta-se o dedo para o CEO do novo empreendimento, ninguém menos que Douglas Tavolaro, sobrinho de Edir Macedo, ex-diretor de jornalismo da TV Record e coautor da biografia do líder religioso e empresário. Homem da família e de absoluta confiança de Edir Macedo, Douglas coordenou uma cobertura jornalística amplamente favorável a Jair Bolsonaro na última eleição.

Isso coloca em dúvida também a imparcialidade jornalística do novo canal. Na estreia, Bolsonaro fez questão de dar uma entrevista ao plantonista da CNN Brasil. Um gesto raro, já que o presidente tem como marca registrada menosprezar o trabalho dos jornalistas que, diariamente, tentam repercutir as questões de interesse nacional com a maior autoridade da República. Até comediante jogando bananas o presidente já lançou contra os profissionais, sem contar ofensas de cunho sexual contra um repórter (“Você tem uma cara de homossexual terrível!”) e machista contra outra repórter (“queria dar o furo contra mim”).

Em meio a questões como essa, a CNN Brasil terá que provar se terá um jornalismo independente ou chapa branca, governamental, ou será independente do governo, como o é a CNN Internacional, bastante crítica ao governo do presidente Donald Trump.

Independentemente de ser uma nova opção ou apenas mais um canal ligado aos oligopólios da comunicação do país, a CNN Brasil chega em boa hora para o mercado jornalístico, que sofre pesada crise com demissões em massa nas principais mídias. O canal representa 800 contratações, entre jornalistas e pessoal técnico.

Há jornalistas vindos de outros canais, como os apresentadores da Globo William Waack (JG), Monalisa Perrone e, até mesmo, Evaristo Costa (JH), que dizia ter se aposentado do jornalismo para mudar para Londres com a família, onde se dedicava ao marketing.

Nomes globais e, pelo que vi na estreia, muita tecnologia são a aposta da nova emissora. Torcer, agora, para que vingue como uma opção de boa informação, informação jornalística verdadeiramente apurada, com direito ao contraditório, que é o que mais falta ao nosso Brasil tão mergulhado nas fake news.

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