Maria das Graças Targino

Doutora em Ciência da Informação, Universidade de Brasília, e jornalista, finalizou seu pós-doutorado junto ao Instituto Interuniversitario de Iberoamérica da Universidad de Salamanca, Espanha. Sua experiência acadêmica inclui, ainda, cursos em países, como Inglaterra, Cuba, México, França e Estados Unidos. Tem produzido artigos, capítulos e livros em ciência da informação e comunicação, enveredando pela literatura como cronista. Depois de vinculação com a Universidade Federal do Piauí por 25 anos e com a Universidade Federal da Paraíba por 14 anos, hoje, dedica-se à literatura, especificamente, ao jornalismo literário e a crônicas.
Doutora em Ciência da Informação, Universidade de Brasília, e jornalista, finalizou seu pós-doutorado junto ao Instituto Interuniversitario de Iberoamérica da Universidad de Salamanca, Espanha. Sua experiência acadêmica inclui, ainda, cursos em países, como Inglaterra, Cuba, México, França e Estados Unidos. Tem produzido artigos, capítulos e livros em ciência da informação e comunicação, enveredando pela literatura como cronista. Depois de vinculação com a Universidade Federal do Piauí por 25 anos e com a Universidade Federal da Paraíba por 14 anos, hoje, dedica-se à literatura, especificamente, ao jornalismo literário e a crônicas.

Armadilhas da modernidade

Tudo muito glamouroso! Facilidades mil! Com passos de gigante, o Airbnb, de 2008 a 2012, se expandiu mundo afora

Dentre os “fenômenos-armadilhas” da modernidade, está o Airbnb. Indo à enciclopédia da moda (face à comodidade que propicia), lá está na Wikipedia a apresentação do que é o aplicativo: “serviço online comunitário (grandioso! acréscimo nosso) para as pessoas anunciarem, descobrirem e reservarem acomodações e meios de hospedagem.” Surgido em 2008, como uma bolha de sabão que se esvai em meio a todo um ritual de beleza, à época, aparecem como fundadores os norte-americanos Brian Chesky, Joe Gebbia e Nathan Blecharczyk, na bela e colorida São Francisco, Estado da Califórnia, EUA. Como razão social, lá está: motor de busca de meios de hospedagem. Como proprietário, simples assim: Airbnb.

A página oficial do serviço “comunitário” praticamente reitera a Wikipedia. São poucas as diferenças, como o número de fundadores. Diz assim: “O Airbnb começou [...] quando [...] designers que tinham espaço sobrando hospedaram três viajantes que procuravam um lugar para ficar. Agora, milhões de anfitriões e viajantes optam por criar uma conta gratuita no Airbnb para que possam anunciar seu espaço e reservar acomodações únicas em qualquer lugar do mundo.”

Tudo muito glamouroso! Facilidades mil! Com passos de gigante, o Airbnb, de 2008 a 2012, se expandiu mundo afora. Nesse período, estima-se que mantém no ar uma média de 500 mil anúncios em mais de 35.000 cidades e 192 países. Desde então, já se tem ideia precisa da falta de transparência do projeto “comunitário.” Isto porque, recorrendo-se aos mais diferentes artifícios de busca, os dados de 2012 para cá tornam-se mais e mais difusos. Por exemplo, ninguém sabe, ninguém viu, quais são exatamente tais países. É possível que a iniciativa esteja mais presente no Ocidente e é certo que não marca ponto nos países ditatoriais ainda existentes.

Mas, afinal, o que, de fato e de direito, é o Airbnb? Fora os dados vigentes em seu site, os quais giram sempre sobre valores, prazos, comodidades, compartilhamento fácil, agradável e seguro, na realidade, é uma organização sem rosto; sem conta bancária; sem supervisão sobre aqueles a quem denomina de anfitriões; e, mais grave, sem contato telefônico via aparelhos fixos (somente o quase sempre ineficiente 0800, comum a companhias aéreas, aos cartões de crédito, às infames operadoras de telefone, às agências de financiamento, etc.). Não permite contato via WhatsApp ou qualquer outro recurso tecnológico atual que possa deixar rastros mais visíveis.

Numa das ilhas do Arquipélago de Açores, há alguns atrás, fomos parar numa imobiliária, com quitinetes à disposição dos interessados. Casas que nem de longe abrigam gente como a gente vendem a ilusão de que o cidadão, sobretudo quando de outro país, terá a chance única de praticar uma nova língua ou conhecer culturas distintas no convívio de gente alegre e atenciosa. Os usuários costumam se encantar com a magia prometida de substituir a frieza dos hotéis pelo abraço cálido de famílias. Afinal, segundo palavras literais do aplicativo, “os anfitriões de experiências do Airbnb compartilham suas paixões e interesses com viajantes e moradores locais.” E, melhor, a preços módicos! E há, sim, experiências vivenciadas de forma positiva, inclusive vivenciadas por nós. Mas, há muita mentira no ar! Muita insegurança para os menos vigilantes ou mais confiantes! Muito embuste!

Casos e mais casos estão vindo à tona sobre a falta de legitimidade desse serviço, que de “comunitário” não tem absolutamente nada. As cifras são o alvo permanente dos proprietários do sistema que não mantêm identidade. Reiteramos: como proprietário, um enunciado simples assim: Airbnb. Isto é, o pior pode acontecer. Em acontecimento recente, em horários seguidos, a empresa sem cara e sem rosto, tentou sacar a segunda prestação de uma longa hospedagem paga em três prestações. Em data próxima ao dito vencimento via cartão de crédito, este sofreu tentativa de fraude num valor superior a 28 mil – duas investidas de 14 mil e mais alguma coisa. Diante do fato, a administração do cartão não teve alternativa, a não ser bloqueá-lo, o que impediu o Airbnb de sacar a segunda prestação. O serviço “comunitário” que, com frequência, envia aos “clientes”, em temporadas mais longas, uma média de quatro a cinco mensagens de publicidade POR DIA, silenciou. Em vez de contato com o cliente, e-mail imediato para o dono da casa (não anfitrião, no sentido restrito da palavra), impondo o cancelamento imediato da reserva dos meses restantes... É possível prever o que aconteceu.

O impossível é prever a dificuldade para sanar a situação junto ao Airbnb! Quase 48 horas para resolver um problema criado por eles. As barreiras vieram à tona: nenhuma conta em nome do “serviço comunitário” para se fazer o depósito; nenhum telefone de fácil acesso. A você cabe receber ligações e instruções via numerosas e desencontradas mensagens eletrônicas. A cliente viveu, com intensidade, horas de pavor, diante da ameaça de despejo e, quem sabe, da investida da polícia. Afinal, um jovem hóspede turco confidenciara que, muito recentemente, o dono da casa expulsara duas chinesas com o auxílio da polícia, por conta de lavagem indevida de roupas no banheiro do quarto onde estavam, o que figura como transgressão para as regras da casa! Eis, então, o lado cômico! Uma noite de domingo. Uma mulher numa cidade estranha, num quarto que não poderia chamar de seu, em meio a ameaças veladas do proprietário, visualizando a cena de seu bota-fora com a supervisão da polícia! Nada ocorreu neste sentido, mas o temor foi intenso para se dissolver em bolhas coloridas de sabão!

É evidente que as autoridades brasileiras precisam investigar o que é o Airbnb. Casos de diferentes naturezas vêm se repetindo países afora, em meio a hospedagens cálidas e bem-sucedidas! Não se trata de acusação irresponsável e, sim, de constatação de que, enquanto o cidadão brasileiro é devorado pelo leão ou qualquer outro animal que represente a vigilância em torno do que ganha um cidadão comum da classe média, o Airbnb corre livre e solto! Cidades europeias e zelosas pela segurança verdadeira de seu povo, como Barcelona (região da Catalunha, Espanha) e Berlim (Alemanha) já não permitem o uso do aplicativo. Argumentam que leva infinita vantagem frente a setores estabelecidos da economia, ou, mais precisamente, em confronto com a rede hoteleira oficial e pagadora de altos tributos!

É preciso saber mais sobre o universo difuso e nada transparente do Airbnb! É um pedido somente para investigar! Nenhuma acusação! Mero pedido! Nada mais! Nada menos! Afinal, investigar é a única estratégia para fugir das armadilhas da modernidade e responder ao questionamento mais genuíno: o que, de fato e de direito, é o Airbnb?

Maria das Graças TARGINO é jornalista e pós-doutora em jornalismo pela Universidad de Salamanca / Instituto de Iberoamérica

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