O fantástico conto do avesso; por Flávio de Ostanila
"O suposto servidor finalmente entendeu que, na vida real, ser honesto e eficiente significava manchar a admirável desonestidade e a briosa ineficiência que caracterizavam a máquina pública"Era uma vez uma cidade imaginária, de um estado hipotético, de um país de faz de conta. Nessa terra fictícia, havia um servidor público utópico de uma secretaria irreal.
Aprovado em concurso de provas e títulos, inicialmente o ocupante do cargo supôs que, para ser reconhecido pelo governante, deveria ser competente e seguir a lei e a moral.
Os anos se passavam, e o incauto trabalhador não recebia nenhuma forma de reconhecimento nem incentivo. Pelo contrário, era alvo de processos disciplinares que, em um cenário normal, deveriam recair sobre colegas malfeitores. Custava-lhe compreender que o erro, para seus superiores, era a denúncia do ilícito, e não a ilicitude.
Apesar de tudo, era um incansável sonhador. Esperava pelo dia em que corruptos e demais criminosos fossem ao menos expurgados do serviço público. Não demorava, ele que voltava a ser vítima dos bilontras.
Depois de vinte anos, nove remoções, seis processos, quatro advertências, duas suspensões, um desconto na remuneração, nenhuma promoção e incontáveis calúnias, o suposto servidor finalmente entendeu que, na vida real, ser honesto e eficiente significava manchar a admirável desonestidade e a briosa ineficiência que caracterizavam a máquina pública.
A propósito, o tolo, enfim, percebia que não eram os homens que eram públicos: o público é que pertencia aos homens. E estes nomeavam chefes e protegiam os séquitos mais ímprobos e incompetentes.
O ideal servidor agora compreendia que - quando das injustas punições, a expressão "para o bom andamento do serviço", redigida por seus algozes - o que se queria dizer na verdade era: "para que possamos cometer ilegalidades em paz".
Para nosso alívio - membros da sociedade civil e servidores públicos decentes -, toda essa narrativa não passa de pura e incontestável ficção.
Flávio José Pereira da Silva [Flávio de Ostanila] é policial penal, escritor, bacharel em Direito e professor de Língua Portuguesa.
Fonte: JTNEWS
Comentários
Últimas Notícias
- Geral Vereadora de Teresina abre mão da nomeação como policial militar do estado do Maranhão
- Justiça Conselheiro Federal da OAB acusa Tribunal de Justiça de ataque à advocacia: "Nota Técnica é imoral e ilegal!"
- Justiça OAB Piauí celebra seus 92 anos, com eventos e homenagens marcantes
- Geral Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária recomenda acautelamento de armas a todos os policiais penais
- Segurança Pública Polícia Civil do Piauí prende 75 pessoas na Operação Cerco Fechado
Blogs e Colunas
Mais Lidas
- Geral Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária recomenda acautelamento de armas a todos os policiais penais
- Geral Filho é preso suspeito de espancar até a morte o próprio pai em Altos (PI)
- Justiça Inauguração do Posto Avançado da Justiça Federal em Piripiri: OAB e autoridades fortalecem acesso à justiça para cidadão
- Segurança Pública Projeto de celulares roubados do Piauí se torna referência nacional
- Geral Oziel de Sousa cobra soluções após desabamento de ponte no povoado Cantinho, em Brejo (MA)