Diretor do Butantan afirma que planos estaduais de vacinação vão contra base do SUS

Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, disse que o Ministério da Saúde cometeu 'falha básica de organização' no plano nacional

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse na noite dessa segunda-feira (14/12), que planos de vacinação elaborados separadamente por Estados vão contra a base do Sistema Único de Saúde (SUS), que é uma "construção federada".

Foto: Divulgação/Governo do Estado de SPDimas Covas, presidente do Instituto Butantan, em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes
Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan, em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes

Esse modelo, disse ele no programa Roda Viva, pode levar até a questionamentos jurídicos constitucionais. Mas, na sua visão, isso tem acontecido diante de uma "falha básica de organização" por parte do Ministério da Saúde.

Covas foi questionado no programa sobre o prejuízo que os planos estaduais de vacinação podem representar ao princípio da igualdade previsto pelo SUS. "Isso vai contra as bases em que o SUS foi construído.

À União cabe financiar as ações, aos Estados organizar as ações e ao município executar. Essa é a organização tem funcionado até então. Qualquer coisa fora dessa organização vai criar problemas inclusive para a ordem constitucional", declarou.

O Butantan desenvolve junto com o laboratório chinês Sinovac a Coronavac, que se encontra na fase 3 de estudos no Brasil. Com base nesse imunizante, o governador João Doria (PSDB) anunciou a previsão para início da vacinação no Estado para 25 de janeiro.

Covas disse nesta segunda-feira que se um brasileiro se sentir prejudicado diante da estratégia dos planos estaduais, com um Estado iniciando a vacinação antes do outro, "ele pode requerer e seguramente vai encontrar abrigo na Justiça".

O diretor afirmou que o anúncio do planejamento por parte do governo de São Paulo foi importante por trazer atenção para o assunto. "Como um país que está muito próximo de ter uma vacina não leva isso em consideração?", questionou o diretor.

Ele disse que vem sendo procurado por políticos, a quem tem dito que o planejamento se mantém para uma incorporação da Coronavac ao Plano Nacional de Imunização, do Ministério da Saúde.

"A suplementação da vacina para os Estados e municípios deve ocorrer se não acontecer essa incorporação. O organismo central, que é o Ministério da Saúde, ele falhou na sua função básica de organizar essa vacinação", reforçou.

"A discussão que foi provocada pelo lançamento do plano estadual foi muito oportuna e movimentou os agentes políticos e agora estão procurando uma solução. Acredito que essa solução deva vir com a incorporação de todas as vacinas disponíveis ao programa nacional, esse é o caminho", explicou o diretor do Butantan.

Covas lembrou que há um memorando de intenção assinado com o Ministério desde setembro, e que não houve uma decisão formal por parte da pasta de desfazer esse entendimento. "Não houve contramedida", disse.

O comentário ocorre no contexto da reação do presidente Jair Bolsonaro ao imunizante, que publicamente desautorizou o ministro Eduardo Pazuello a adquirir as doses. No plano entregue ao Supremo Tribunal Federal, o ministério não esclarece efetivamente a questão.

No trecho do plano em que lista as vacinas "já garantidas", o governo federal não cita a Coronavac. Em outra parte do documento, porém, o ministério afirma que "disponibilizará crédito extraordinário para aquisição de toda e qualquer vacina que adquira registro de forma emergencial ou regular que apresente eficácia e segurança para a população brasileira", o que abre brecha para que a Coronavac seja comprada caso se mostre eficaz e obtenha aprovação da Anvisa.

O Ministério da Saúde tem falado que cabe ao governo federal organizar a vacinação e a gestão Jair Bolsonaro prepara Medida Provisória para liberar R$ 20 bilhões para comprar imunizantes contra o Coronavírus.

Fonte: JTNEWS com informações da Terra

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