Delegados da PF rebatem Lira e dizem não perseguir ninguém em investigações
Aliados de Lira foram alvo da PF em junho deste ano, em apuração sobre suspeitas envolvendo kits de robótica. O nome do presidente da Câmara apareceu no inquérito com a deflagração da operação.Após o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), dizer em entrevista à Folha que o governo precisa ter "cuidado" com excessos que têm aflorado em investigações da PF, a ADPF (Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal) afirmou que a atuação da corporação não privilegia nem persegue ninguém.
![Arthur Lira durante entrevista à Folha na residência oficial da Câmara.](/media/image_bank/2023/9/arthur-lira-durante-entrevista-a-folha-na-residencia-oficial.jpg)
"A Polícia Federal é órgão de Estado e conquistou ao longo de sua história o prestígio e a confiança da sociedade na seriedade de seus policiais. As investigações conduzidas pela PF não privilegiam nem perseguem ninguém, são sempre pautadas pela legalidade e pela imparcialidade", afirmou Luciano Leiro, presidente da ADPF.
Na entrevista publicada na segunda-feira (18), Lira declarou que a "Polícia Federal não trabalha nem como promotor de Justiça nem como juiz." "Ela tem que ir até a investigação. Acabou a investigação, acabou o papel. Ela não pode ir além disso. Tem policiais indo além disso", concluiu o presidente da Câmara.
A avaliação de integrantes da PF é que não há o que comentar sobre as críticas do presidente da Câmara. Eles dizem que as investigações são baseadas em fatos e que a melhor resposta que a Polícia Federal pode dar é seguir com seu trabalho nas investigações em curso.
![Policiais deixam hotel em Brasília após cumprirem mandado de busca e apreensão contra suspeitos de desvio de verbas para compra de kits de robótica.](/media/image_bank/2023/9/policiais-deixam-hotel-em-brasilia-apos-cumprirem-mandado-de.jpg)
Aliados de Lira foram alvo da PF em junho deste ano, em apuração sobre suspeitas envolvendo kits de robótica. O nome do presidente da Câmara apareceu no inquérito com a deflagração da operação, ocasião em que os policiais encontraram uma lista com pagamentos atribuídos a ele. A PF enviou o caso ao STF e, semanas depois, o ministro Gilmar Mendes mandou paralisar a investigação.
"Isso é uma alegação. Mais um abuso, um excesso. Não tem nada que foi provado com relação a isso, inclusive toda essa operação foi anulada", afirmou Lira na entrevista.
Ele também criticou a Operação Perfídia, deflagrada na semana passada, que investiga suposta fraude em licitação do Gabinete de Intervenção Federal no Rio de Janeiro, então comandado pelo general Walter Braga Netto (PL). O militar foi ministro do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e candidato a vice na chapa derrotada em 2022.
Integrantes da PF também viram na declaração de Lira uma tentativa de intimidar a corporação a frear novas investigações.
Já Leiro afirma que, "se há casos em que, após a investigação, a Justiça decide pela inocência dos investigados, isso só demonstra o êxito do sistema de persecução penal, e não abuso ou excesso dos investigadores, é assim na democracia e no próprio sistema de justiça criminal do Brasil."
Para o presidente da ADPF, "não podemos nunca abrir mão da autonomia funcional e investigativa dos delegados federais, que é prerrogativa fundamental para o bom andamento e o êxito de uma investigação policial, que conta sempre com a participação de representantes do Ministério Público e do Poder Judiciário."
Na entrevista, Lira foi questionado sobre a atuação do ministro Flávio Dino (Justiça), mas o poupou de críticas. O presidente da Câmara afirmou que tem uma boa relação com o titular da pasta. Mas mirou na PF.
"O que não deve ter é uma polícia política, para nada. Isso é o pior dos mundos. Nem um polícia com autonomia para fazer o que quer. Nós não temos isso. Polícia é órgão de estado para cumprir determinações legais."
Fonte: JTNEWS com informações da Folha de S.Paulo
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