Após assassinatos de 2 indígenas, cacique relata ameaças contra etnia no MA

O atentado contra os índios ocorreu próximo às aldeias Boa Vista e El Betel, que ficam às margens da rodovia, entre os municípios de Barra do Corda (MA) e Grajaú (MA)

Um dos líderes no Maranhão dos Guajajaras, etnia alvo do atentado que matou dois caciques e feriu dois indígenas no último sábado (07), afirmou nesse domingo (08) que as ameaças contra o grupo, prosseguem e aumentaram desde que, em protesto. alguns índios bloquearam por 28 horas a rodovia BR-226 - palco dos ataques . O trecho foi liberado por volta das 17h30 de domingo .

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Um dos sobreviventes do atentado relatou que homens em um carro branco atiraram contra os quatro indígenas. Segundo ele, os criminosos não falaram nada e se aproximaram logo atirando. O atentado contra os índios ocorreu próximo às aldeias Boa Vista e El Betel, que ficam às margens da rodovia, entre os municípios de Barra do Corda (MA) e Grajaú (MA).

Os índios viajavam de moto após participarem de reunião entre a Funai (Fundação Nacional do Índio) e a Eletronorte, sobre compensações pela construção de linhas de transmissão de energia elétrica que vão passar por dentro das aldeias.Os mortos no atentado são os caciques Firmino Prexede Guajajara, 45, da aldeia Silvino, e Raimundo Bernice Guajajara, 38, da aldeia Decente. Eles são, respectivamente, da Terra Indígena Cana Brava e Lagoa Comprida. Os corpos dos índios mortos ainda não foram liberados para enterro.

Os índios baleados que sobreviveram são: Nico Alfredo Guarajara, da aldeia Mussun, internado em estado grave, e Neucy Cabral Vieira, da aldeia Nova Vitoriano, que recebeu alta hoje após ser baleado na perna. Eles estão sob proteção policial.As ameaças Um cacique que pediu para não ter o nome divulgado relatou ao UOL a tensão que o povo Guajajara enfrenta para não ter terras invadidas por fazendeiros e madeireiros da região.

"Recebemos ameaças a todo momento pelas redes sociais, em grupos de WhatsApp. As pessoas destilam ódio contra índios e vivemos amedrontados", diz o cacique.Ele diz que a preocupação aumentou com o atentado porque expôs a vulnerabilidade do grupo, que usa frequentemente a BR-226. "Nosso medo é que a qualquer momento podemos ser surpreendidos com tiro na cabeça, nas costas, se não tiver policiamento, pois as pessoas são más. Por isso, ficamos com medo e pedimos garantia de segurança para nós e de pessoas que usam a rodovia", afirmou.

Eles enviaram à reportagem áudios e cópias de mensagens com injúrias e ameaças que recebem nas redes sociais. Eles disseram que repassaram para a polícia e pedem garantias de segurança para toda a comunidade indígena.Como a veracidade, nem a procedência dos áudios foi verificada, a reportagem optou por não publicá-los.

Em uma mensagem escrita, uma mulher afirma que o governo "tem que jogar uma bomba para exterminar esses índios desgraçados", pois todos os anos inventam uma desculpa para bloquear a BR-226. "Mata logo tudo que acaba o problema", diz a mulher. Outro homem responde o comentário dizendo que "tem que sentar o aço nesses índios vagabundos, ladrões."Áudios de participantes de grupos da cidade de Barra do Corda também fazem ameaças e acusam índios de crimes que não cometeram.

"Bolsonaro tem de meter a taca mesmo nesse bando de índio vagabundo, que fica querendo terra e não faz nada. Por isso, sou a favor de Bolsonaro porque ele não alisa, não. Índio não tem direito a nada não. Índio é igual a gente! porque são melhores que a gente? Qualquer coisinha índio pinta e borda e não acontece nada com eles, principalmente esses dai da Barra do Corda. São um bando de safados", diz um homem não identificado em um dos áudios. Em seguida, outro homem responde o áudio dizendo que ele "falou a verdade" e "tem de meter a taca nesses índios e mandar matar é tudo. É meter a taca em tudo", ameaça.

Protesto

A PRF (Polícia Rodoviária Federal) informou que os índios bloquearam a BR-226 em três pontos distintos, dentro do perímetro da reserva indígena Guajajara, em protesto ao atentado. A interdição durou das 13h30 do último sábado (7) até às 17h30 de domingo (08)."Uma fila de aproximadamente um quilômetro e meio se formou para cada lado", disse a PRF. Após a liberação da rodovia, a polícia organizou o fluxo e a passagem pela área ocorre normalmente.

A rodovia foi liberada após reunião entre lideranças indígenas, o governo do Estado, por meio das secretarias de Segurança Pública e de Direitos Humanos. O acordo é que a polícia investigue até descobrir os autores do atentado e que aja punição da Justiça. Os índios disseram que caso haja descumprimento do acordo, voltarão a interditar a rodovia. 

Segundo a polícia, para interditar dois trechos da BR-226, os índios tomaram dois caminhões e atravessaram os veículos na rodovia. As cargas dos dois caminhões foram saqueadas. Além disso, manifestantes colocaram galhos de árvores e atearam fogo na madeira em um terceiro ponto da rodovia.

Não se sabe o destino dos motoristas dos caminhões, mas a PRF disse que não há relatos que eles sejam reféns. A provável hipótese é que os condutores dos veículos foram para a cidade. O cacique negou que tenha ocorrido saques das cargas dos caminhões e rejeitou a versão de que havia índios bêbados na manifestação.

Governo fala em apoio aos indígenas

O Governo do Maranhão afirmou que ofereceu à Polícia Federal apoio da FT-Vida (Força-Tarefa de Proteção à Vida Indígena), criada no mês passado. A FT-Vida é composta pela SSP, que integra as polícias Civil e Militar, além do Corpo de Bombeiros Militar. O grupo é assessorado pela Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Participação Popular (Sedihpop).

Fonte: UOL Notícias

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