Aos heróis, a desonra!

Acompanho as movimentações das entidades de classe que defendem os direitos dos servidores em Segurança Pública e acho suas ações desnecessárias e paradoxais. Desnecessárias, por exemplo, quando reivindicam ao Estado capas de chuva e aparelhos de ar-condicionado: conforto não orna com atividade policial — boa vida é privilégio para políticos. Paradoxais nas vezes em que requerem armamentos, os quais possuem uma infinidade de restrições para seu uso em desfavor do bandido. Este, sim, combina mais com todos os modelos e calibres de armas.

Foto: Reprodução / Redes Sociais

Polícia

Polícia tem que estar é sob chuva, sol, relâmpagos e trovões; no meio de porrada, paulada, pedrada, facada e tiro; atravessando lama, esgoto, fogo, mata fechada e escuridão; nadando, mergulhando, correndo, rolando, rastejando, saltando, voando, caindo.

Policial deve engolir o choro, segurar o gemido, a dor, o grito; sucumbir ao adoecimento físico e mental pelejando para aliviar o sofrimento enquanto abusa de álcool, drogas e Rivotril. Aguentar as denúncias, responder a processos sem a piedade do falso noticiante, nem da sociedade, nem da imprensa, nem da internet, nem do promotor, nem do juiz. 

Ao policial é imperativo que, com tão  pouco dinheiro, sobreviva debaixo de ordens de tantos indivíduos e tenha a ciência de que, tentando proteger a estranhos, mal cuidará da própria família. E morrerá sabendo que deixará pensão alimentícia pífia aos filhos e que será esquecido no instante em que a primeira pá de terra for lançada sobre seu caixão barato.

Os fogos e tiros para o alto?! serão os criminosos festejando seu fim. Vou parando por aqui: a ideia de Céu e Inferno, ou talvez só deste, deixa-me ainda mais atormentado.

Foto: Reprodução

Escritor Flávio José Pereira da Silva

Flávio José Pereira da Silva [Flávio de Ostanila] é policial penal, escritor, bacharel em Direito e professor de Língua Portuguesa.