A Vida do Magistrado; por Brandão de Carvalho

Ser magistrado é ser um médico dos enfermos sociais, dos que tormentosamente vivem os mais íntimos e variados problemas com seus semelhantes desavindos

Todos nós exercemos as mais diversas profissões quando estamos aptos ao mercado de trabalho, cada uma com suas derivações ou nuances. Na minha análise pessoal, não somente a profissão na exação da palavra completa o homem, algumas outras devem ser adicionadas à vocação, que exprime uma inclinação natural ao exercício desse mister.

Foto: Jacinto Teles/JTNEWSBrandão de Carvalho
Brandão de Carvalho discorre acerca do 'ser magistrado'

Muitas das vezes assumimos uma responsabilidade laboral pelas circunstâncias de momento arrostado pela necessidade financeira, por um paliativo circunstancial, assim por diante. Na minha vida, passei por determinadas atividades laborais que não se coadunavam com a vocacionalidade que eu sentia ter no âmago de minhas mais puras aspirações, embora não tergiversasse nas obrigações assumidas.

Foram várias as frentes conquistadas com labor incessante, entretanto já adentrando a maturidade média, um sonho antigo ainda de criança tornou-se possível: ser magistrado, ser juiz, um distribuidor equânime da justiça, dando a cada um o que lhe pertence, no verdadeiro sentido da equidade. Uma justiça natural, a disposição de conhecer imparcialmente o direito de cada um à luz dos mais lídimos fundamentos do direito e da justiça.

Ser magistrado é ser um médico dos enfermos sociais, não daqueles que se encontram nos leitos hospitalares, mas dos que tormentosamente vivem os mais íntimos e variados problemas com seus semelhantes desavindos, em razão de uma lesão patrimonial ou moral!

O juiz aplica não os remédios terapêuticos, mas faz desaparecer as dores com a real aplicação da lei aos que têm fome e sede de justiça; o juiz é um psicólogo, porque prescruta a individualidade da parte dentro do caderno processual através de meios que dispõe pela psicologia forense; o juiz é, antes de tudo, um apaziguador, pacificador, através das tentativas de acordos ou das mediações, prolatando a sentença como a última forma de solução dos conflitos.

O juiz é o pai que procura unir a família, marido, mulher e filhos nas turbulências da vida conjugal, nos dramas as vezes dilacerantes cometidos nos confins dos lares, onde lágrimas e sangue são derramados, vidas ceifadas, moral destruídas, em chegando ao conhecimento do juiz (muitas das vezes tarda nem chega), recebemos dentro de nós essa carga emocional sem precedentes para as devidas soluções. 

O juiz é também a mão forte em suas decisões, representa o Estado, que impõe o império da lei aos seus jurisdicionados. O juiz também exerce um sacerdócio, não dentro dos cânones eclesiais, mas no sentido da magnanimidade, na grandeza de suas funções quase divinas. Julgar o outro é um dom de Deus, o fazemos em nome da lei mas somente Ele nos julgará, sermos juízes ou não, a quem cabe o juízo final.

Este momento se dará biblicamente, depois da ressurreição dos mortos, segunda vinda de Cristo (Apocalipse 20.12-15). O julgamento é um ato materializado pelo homem mas está explícito na palavra em Coríntios 11.13 e Romanos 14.13. Somos cognominados de juiz, desembargador, ministro, que no fundo são títulos honoríficos em face da gradação da carreira, mas todos somos juízes.

Poderemos fazer uma analogia com a carreira eclesiástica, padre, monsenhor, bispo, cardeal, papa, mas todos são padres, daí o termo relativo ao Sumo Pontífice Católico Romano, SANTO PADRE.

Nossa mensagem de hoje (4/3), mostra a figura do juiz, este contemporizador de conflitos, pacificador social, aplicador da lei na condenação ou na absolvição, a autoridade que em nome da lei e representando-a luta por uma sociedade igualitária e justa, em que todos, sem exceção, sejam iguais perante a lei. 

Mesmo que ainda não tenhamos chegado a essa plenitude, esse é o “desideratum” que tanto almejamos neste mundo conturbado por nossas próprias ações, como homens e mulheres!

*Brandão de Carvalho é escritor da Academia de Letras Jurídicas do Piauí e desembargador do Tribunal de Justiça do Estado.

Fonte: JTNEWS

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