A Esperança; por Brandão de Carvalho

A esperança está mais na escuridão do que na claridade, porque ela é algo a conquistar no âmbito de nossas mais profundas dificuldades

A crônica desta quarta-feira (17/3) do escritor Brandão de Carvalho traz uma reflexão acerca da 'esperança'. Confira no texto a seguir:

Ontem a noite, observando de meu leito, janela aberta, gotículas d’água numa chuvinha intermitente caindo sobre um pé de limão extremamente verde, em plena produção, veio-me a mente, pelo chamamento da cor um tanto clorofilado, o verde que simboliza a esperança, este sentimento tão altruístico e nobre, que habita dentro de cada um de nós.

Foto: Jacinto Teles/JTNEWSBrandão de Carvalho
Brandão de Carvalho discorre acerca da esperança

Infeliz do homem desesperançado, que não traça planos, mesmo que pense ser inatingíveis, porquanto a esperança é o liame que liga todas as nossas puras aspirações na trajetória constante de nosso ser existencial.

O homem sem esperança é um frasco vazio, é uma nau sem rumo nos mares revoltos, é um barco de papel sobre as correntezas da vida, é um cego espiritual, mesmo quando deficiente de visão ele desenvolve com mais fortalecimento o caminho que o leva a conquistar a esperança plena.

A esperança está mais na escuridão do que na claridade, porque ela é algo a conquistar no âmbito de nossas mais profundas dificuldades. Lembro-me bem que o Papa Francisco (ex-cardeal Jeorge Bergamo), em visita ao Brasil, proferiu a seguinte frase, aos jovens especialmente, sobre a Esperança: "Deveremos seguir três simples posturas: conservar a esperança, deixar-se surpreender por Deus e viver na alegria".

Como poderemos observar, à prima facie, Sua Santidade coloca a Esperança em primeiro lugar em suas ponderações. A palavra esperança no seu paradigma já expressa o sentido de esperar, de obter aquilo que desejamos no decorrer de nossos propósitos de vida.

A Esperança faz parte das três virtudes teologais, tendo como símbolos a âncora ou a cor verde; aquela primeira colocamos ao mar para sustentação das embarcações, a cor verde como o símbolo do viço de tudo que se reproduz na mãe natureza; temos pois, como virtudes teologais, a esperança, a fé e a caridade.

A âncora é pois a simbologia da firmeza, que exterioriza todas essas virtudes, toda nossa estabilidade. A esperança nos encoraja um passo à frente, mesmo na incerteza, enfrentamento a angústia e a superação do perigo a concretização da meta perquirida.

Lembro-me de uma passagem, ou de inúmeras passagens quando criança (quem de nós não lembra?), vendo pousar sobre nós um pequenino inseto verde que chamávamos de Esperança? Nossos pais chamavam-nos atenção de acolhê-lhos com carinho, porque a sua cor verde nos daria sorte. Tenho essas lembranças bem intactas no âmago de minhas recordações inapagáveis. Se encontrássemos morta, era sinal de mal presságio ou de agouro.

Esses pequenos detalhes da vida vêm nos atestar como a esperança em termos teologais é tão importante para nossas vidas. A esperança não deve morrer hoje, como nunca, nestes momentos de tantas mortes, tantas dores, tantas sequelas de ordem psíquica e espiritual, aonde parecemos emparedados como um rebanho preso as alturas de um enorme precipício, olhando as procissões de moribundos nos hospitais e outras tantas aos cemitério. Não esqueçamos da passagem do livro sagrado, Salmos 42.11, que preleciona “Porque você está assim tão triste, ó minha alma? Porque está assim tão perturbada dentro de mim? Ponha a sua Esperança em Deus pois ainda o louvarei! Ele é meu salvador e meu Deus!" 

Brandão de Carvalho é escritor, membro da Academia Piauiense de Letras Jurídicas e desembargador do Tribunal de Justiça do Piauí.

Fonte: JTNEWS

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