Giulieny Matos

Gosta do cotidiano. É especialista em segurança pública e educadora autônoma. Formada pela Unb, trabalha atualmente em prol da prevenção precoce da violência. Colaboradora da Magazine Internacional IPA Brazil. Possui 12 livros publicados.
Gosta do cotidiano. É especialista em segurança pública e educadora autônoma. Formada pela Unb, trabalha atualmente em prol da prevenção precoce da violência. Colaboradora da Magazine Internacional IPA Brazil. Possui 12 livros publicados.

Herança italiana, a chamada para viver na cultura de paz

Santa Rita de Cássia: amada na Itália, é também respeitadíssima pelos brasileiros, a quem recorrem em situações difíceis

Você perdoaria o assassino de seu marido?

A cidade de Cascia, na Itália, era bem famosa pelas suas tragédias violentas. A vingança dominava as relações sociais. Matou, morreu. Secretas conspirações acirravam as guerras de importantes sobrenomes da cidade sem o mínimo de perdão. Assim, as mortandades dos homens daquela comunidade formavam filas de enterros nos cemitérios e ajuntavam lágrimas das viúvas em seus lenços.

Foto: Reprodução/Google MapsA cidade de Cássia fica a cerca de 138 Km da cidade de Roma, na Itália
A cidade de Cássia fica a cerca de 138 Km da cidade de Roma, na Itália

Não diferente era a família de uma jovem senhora chamada Rita. Ela casou-se cedo e amava marido. Paolo, como os outros homens da cidade, era também violento. Uma noite, o viu voltar pra casa e atear fogo em suas roupas ensangüentadas. Não tardou, a família da vítima concretizou sua vingança e ele foi assassinado. Rita tornou-se mais uma das viúvas da cidade de Cássia. Rezou para perdoar os assassinos de seu marido.

Seus dois filhos gêmeos estavam com mais ou menos 12 anos. Ao ouvir as conversas secretas do tio, irmão de seu falecido esposo, com seus dois filhos, planejando a vingança do irmão, tratou de correr e avisar a família inimiga para que fugissem. Deu tempo. Com medo de que seus filhos se tornassem maus, disse a Deus que preferia que os levasse, caso viessem, no futuro, a perder suas almas no inferno. E assim aconteceu. Os dois rapazes sofreram de uma doença de tal modo maléfica que a mãe os enterrou ao lado do corpo do pai. O tio, também acometido de mal grave e contagioso, foi cuidado por Rita até seu restabelecimento.  O golpe foi duro e Rita, por um período, passou a viver em uma caverna como uma eremita. Tornou-se uma pessoa de mais paz ainda e sua oração se fortaleceu.

Foto: Nossa Sagrada FamíliaSanta Rita de Cássia, padroeira das causas impossíveis
Santa Rita de Cássia, padroeira das causas impossíveis

Rita quis entrar para o convento, mas já era velha e havia tido marido. Por duas vezes sua admissão foi recusada. Na terceira vez, dormiu do lado de fora do convento e amanheceu dentro dos átrios. A madre superiora, temendo a vontade de Deus, a deixou permanecer, apesar de não achá-la digna de fazer parte daquela instituição e questionar sua vocação. Foram dadas a Rita as piores atividades do convento, as quais aceitou de bom grado sem nunca reclamar. As pessoas pediam-lhe orações pelos seus males, e recebiam as graças almejadas. Por cartas, tornou-se conselheira do papa para situações difíceis que lhe apareciam em visões e miraculosamente. Do povo, recebia incontáveis cartas com pedidos de orações.

Rita de Cássia, a Santa da Paz e das causas impossíveis!

A fama de santa das causas impossíveis se espalhou por toda Itália, de toda parte da Europa aparecia gente, pois sabiam da sua intimidade com Deus e confiavam no poder de suas orações. Tudo que ela pedia ao Todo-Poderoso, alcançava, e os fiéis sabiam disso. Pessoas faziam fila na porta do convento para ter uma audiência com Rita. Após muitos anos, estava cansada de atender as pessoas. Queria permanecer em contemplação e em silêncio. Deus mandou-lhe de presente uma chaga muito feia bem no meio da testa. A chaga aberta cheirava mal. Com isso, passou a habitar num quartinho nos fundos do convento para ficar afastada das demais freiras. Certo dia um burburinho tomou conta de todo o convento. As freiras iriam para Roma, o Papa! Rita interessou-se pela viagem. Confidenciou a Deus seu desejo. A chaga foi fechada, como se nunca tivesse existido. Não aparecia sequer uma cicatriz. Rita pôde viajar com todas suas companheiras. Quando retornara, bastou pisar o pé de volta ao convento, a chaga abriu-se novamente e ela se recolheu em seu casulo.

Foto: Jovens da CruzO corpo incorrupto da Santa Rita de Cássia está exposto na pequena comuna de Cássia, na Itália
O corpo incorrupto da Santa Rita de Cássia está exposto na pequena comuna de Cássia, na Itália

Nevava no dia da morte de Rita. Do jardim do convento, em plena neve, a seu pedido, foi colhido figo e flor. O ambiente foi tomado pelo cheiro de flores de rosas. Seu corpo desde então está exposto na Basílica de Rita de Cássia, ao a 140 km de Roma. A cidade tornou-se um centro de fé e de peregrinação. A primeira paróquia onde repousava o corpo de Rita era de madeira.  De tanta visitação ao local, implorarem por sua intercessão, acenderem muitas velas, a igreja pegou fogo, porém nem um fio de cabelo sequer de Rita foi queimado. Construíram a basílica atual onde seu corpo está exposto.

Santa Rita de Cássia, título mais nobre concedido pelo Vaticano, tem o corpo inteiro intacto, a dormir tranqüila em paz. Amada na Itália, é também alguém respeitadíssima pelos brasileiros, a quem recorrem em situações difíceis.

Quem dera cada brasileiro fosse, antes de mais nada, um homem pacifista a exemplo de Rita de Cássia. Que cada profissional possa ser instrumento de quebra do ciclo da violência e dos grilhões sociais, um pacifista como Rita de Cássia foi. Que as virtudes da Santa da Paz, título merecido com honradez, seja o tributo almejado pelo cidadão brasileiro.

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