Segurança Pública

Operação Jogo Sujo: Polícia Civil do Piauí indicia influencers por organização criminosa

Todos são suspeitos de atuarem como divulgadores de plataformas ilegais de apostas on-line (tigrinho).

Foto: Reprodução / Instagram
Maria Vitória Silva de Sousa Lima, Domingos da Silva Ferreira, Nayanna Fonseca e Nathalya Therccia Carlos Ribeiro

O Departamento de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC), da Polícia Civil do Piauí, indiciou os influencers Maria Vitória Silva de Sousa Lima (conhecida como DJ Latina Gold), Domingos da Silva Ferreira (DJ Loboox, companheiro de Maria Vitória), Nayanna da Silva Fonseca e Nathalya Thercia Carlos Ribeiro pelos crimes de organização criminosa, exploração de jogos de azar, lavagem de dinheiro e indução de consumidor a erro, no bojo da Operação Jogo Sujo III, deflagrada em 25 de setembro em Teresina.

Foto: Reprodução / Instagram
Maria Vitória Silva de Sousa Lima, Domingos da Silva Ferreira, Nayanna Fonseca e Nathalya Therccia Carlos Ribeiro

Todos são suspeitos de atuarem como divulgadores de plataformas ilegais de apostas online, especialmente os populares aplicativos conhecidos como “jogo do tigrinho”, prática proibida no Brasil.

De acordo com o inquérito policial, os influenciadores utilizavam suas redes sociais para promover plataformas de apostas sem autorização legal, estimulando seus seguidores a se cadastrarem por meio de links personalizados. Em troca, recebiam comissões e bonificações, além de vantagens oferecidas pelas próprias plataformas, como viagens internacionais, carros de luxo e pagamentos mensais.

A investigação apontou que o conteúdo divulgado tinha como objetivo induzir o consumidor ao erro, ao fazer parecer que os ganhos financeiros exibidos pelos investigados eram fruto direto das apostas, criando falsas promessas de enriquecimento fácil. Vídeos e postagens ostentando bens de alto valor eram utilizados como ferramenta de convencimento, mesmo sem qualquer comprovação de ganhos legítimos.

Grupo estruturado com tarefas divididas

Segundo o DRCC, o grupo fazia parte de um esquema estruturado, com divisão de tarefas clara e conexão com operadores estrangeiros. O inquérito aponta que empresários chineses seriam os verdadeiros donos das plataformas ilegais, que recrutavam "gerentes" que, por sua vez, contratavam influenciadores para promover os jogos no Brasil.

Relatório do COAF revelou transações superiores a R$ 30 milhões ligadas a fintechs e plataformas de jogos de azar

Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) revelou um amplo esquema de movimentações financeiras suspeitas que ultrapassam os R$ 30 milhões.

As movimentações, consideradas atípicas para o perfil financeiro dos indiciados, não foram justificadas com documentos ou registros fiscais. O padrão de transações, aliado à ostentação pública de bens de alto valor, levou a polícia a concluir pela prática de lavagem de dinheiro, com uso dos ganhos ilícitos para aquisição de veículos, viagens e outros ativos.

Os indiciados, segundo a investigação, utilizavam empresas interpostas e uso de fintechs para dissimular a origem e o destino dos valores. As investigações apontam para uma sofisticada rede de lavagem de dinheiro perpetrada por Maria Vitória Silva de Sousa Lima, Domingos da Silva Ferreira, Nayanna da Silva Fonseca e Nathalya Thercia Carlos Ribeiro.

Maria Vitória: R$ 14 milhões movimentados e elo com empresas investigadas pela CPI das Apostas

A influencer Maria Vitória Silva de Sousa Lima, segundo o COAF, movimentou mais de R$ 14 milhões entre 2023 e 2024 por meio de contas em diversas instituições de pagamento. O relatório indica a presença de depósitos de fintechs ligadas a jogos online, como CASH PAY, Viatech Bank, Kendo Serviços Digitais e BRGABE, algumas delas com sócios já investigados por fraudes e convocados à CPI das Apostas Esportivas.

Maria Vitória, que possui veículos de alto valor e é sócia da DJ Latina Gold e Divulgações Ltda, aparece também como remetente de grandes quantias para si mesma e para seu companheiro Domingos da Silva Ferreira, incluindo transações com empresas como Logame do Brasil Ltda, ligada à exploração de jogos de azar, e Zalka Pago Ltda, fintech também envolvida no setor de apostas.

Em apenas dois meses — entre outubro e dezembro de 2024 — ela realizou transações no valor de R$ 2,6 milhões somente pelo Mercado Pago, reforçando os indícios de uma movimentação financeira incompatível com sua renda declarada.

Domingos da Silva Ferreira: elo financeiro e movimentação circular com fintechs de jogos ilegais

Já Domingos da Silva Ferreira, segundo o relatório, recebeu cerca de R$ 335 mil, grande parte oriunda de sua companheira Maria Vitória. A movimentação é caracterizada como "circular" — um padrão comum na tentativa de ocultar a origem ilícita de recursos. Entre os repasses mais significativos, constam valores enviados para empresas como Zam Pago, Wudi Pay, Payment HK Logame Ltda e Pay Nest, todas envolvidas com apostas online.

Domingos não possui veículos ou empresas em seu nome, o que, segundo os investigadores, reforça a suspeita de dissimulação patrimonial. As movimentações sugerem que ele atuava como um facilitador na rede de apostas ilegais, distribuindo os valores recebidos a diversos intermediários financeiros.

Nayanna da Silva Fonseca: empresas em nome de terceiros e movimentações superiores a R$ 9 milhões

Outro nome de destaque no relatório é Nayanna da Silva Fonseca, que movimentou R$ 9,2 milhões entre 2021 e 2024. O COAF identificou transações com empresas como LCFM Assunção Ltda, registrada em nome de uma terceira pessoa que alegou nunca ter autorizado o uso de seus dados. A empresa usava o nome fantasia “Nayanna Fonseca”, o mesmo de outras empresas ligadas à investigada, o que levanta suspeitas de criação de negócios fictícios para simular licitude financeira.

Nayanna também manteve relações financeiras com Mayra Karla Vieira da Silva, sua companheira e sócia em empresas registradas com o mesmo nome fantasia. O relatório destaca o uso reiterado do nome “Nayanna Fonseca” em diversas pessoas jurídicas, apontando para um possível esquema de "empresas de fachada".

Ela recebeu e enviou valores a diversas fintechs envolvidas com jogos online, como HKP Pay, Voluti, Happy Pago e WWW Pago, todas citadas em ações judiciais e investigações por intermediação de apostas sem regulamentação no país.

Nathalya Thercia: maquiagem financeira com fintechs

A influenciadora Nathalya Thercia Carlos Ribeiro, sócia da empresa Villa Rosa Makeup, movimentou quase R$ 5 milhões em apenas seis meses, com registros de crédito e débito praticamente equilibrados. Assim como os demais investigados, Nathalya recebeu recursos de fintechs como HKP Pay e Voluti, além da empresa YCFSHOP Tecnologia em E-commerce Ltda, ré em ação civil pública por atuar em intermediação de sites de apostas ilegais.

 A empresa da qual Nathalya é sócia figura em processos cíveis no Piauí, segundo o relatório, o que reforça os indícios de envolvimento com práticas comerciais suspeitas ligadas a economia paralela e apostas não reguladas.

Os autos do inquérito foram encaminhados ao Ministério Público do Piauí, que analisará o pedido de oferecimento de denúncia formal à Justiça. Caso o processo avance, os investigados poderão responder judicialmente pelos crimes atribuídos e, se condenados, enfrentar penas que, somadas, podem ultrapassar 20 anos de prisão, além de multa e perda de bens adquiridos com recursos ilícitos.

Fonte: JTNEWS com informações do GP1

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