Cultura

CONSCIÊNCIA NEGRA: Francisca Trindade e Júlio Romão, magníficos símbolos da raça negra brasileira

Bacharel em Letras, História e Geografia pela Faculdade de Filosofia do RJ, Júlio Romão superou desafios e preconceitos raciais, e tornou-se um símbolo extraordinário contra a discriminação racial.

Foto: Foto da Foto | Jacinto Teles
A luta de Francisca Trindade pelas minorias mudou a trajetória política do Piauí, e a consagrou como uma das figuras que moldou a história do estado.

No dia 20 de novembro o Brasil celebra o Dia da Consciência Negra, uma data que transcende à mera comemoração e mergulha profundamente na reflexão sobre a presença africana na formação da cultura brasileira e é momento fundamental de reivindicação e/ou exigências de efetivação de políticas públicas pela igualdade racial. Este dia foi escolhido em homenagem a Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência negra contra a escravidão no País.

O Dia da Consciência Negra (20/11) não se trata apenas de lembrar o passado de lutas e desafios, mas, sobretudo de refletir sobre o presente e o futuro. É um momento de avaliar os avanços e as conquistas da população negra no Brasil, bem como de alertar para as desigualdades ainda muito presentes no cotidiano.

De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em julho de 2023, o Brasil registrou em 2022, 47.508 mortes violentas intencionais (MVI). No que diz respeito ao perfil étnico-racial das vítimas, 76,5% são pessoas negras.

A desigualdade racial persiste ainda em várias esferas da sociedade, seja na educação, no mercado de trabalho, na representatividade política e na mídia. Por isso, este dia também serve como um lembrete contundente da necessidade de políticas públicas efetivas que promovam a igualdade de direitos e oportunidades.

No Piauí, em particular, essa data tem um significado especial, graças a figuras como Francisca Trindade, que dedicou sua vida à defesa dos direitos das pessoas menos favorecidas e à luta pela igualdade racial.

Nascida no bairro Àgua Mineral em Teresina (PI), Francisca Trindade foi a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa do Piauí e até hoje a parlamentar federal mais votada proporcionalmente no Brasil, para a Câmara dos Deputados [2003-2007]. A deputada morreu em julho de 2003, vítima de um aneurisma cerebral durante um ato político com o ministro da Pesca no auditório Mestre Dezinho no Centro Artesanal da Capital piauiense.

Fundação Deputada Francisca Trindade lança Exposição no Karnak

Entretanto, 20 anos após sua prematura partida, a sua luta no Piauí pelos direitos do povo negro e mulheres é reconhecida e comemorada até os dias atuais. Na última segunda-feira (20/11), o Governo do Estado deu início à exposição fotográfica intitulada “Trindade Vive”, em homenagem a Francisca Trindade, obviamente por iniciativa da Fundação Deputada Francisca Trindade, presidida por sua irmã, Marli Trindade.

Foto: Arquivo Pessoal | Jacinto Teles
HISTÓRIA: Francisca Trindade durante posse do então vereador Jacinto Teles (PT), na Câmara Municipal de Teresina para o 1° de 2 mandatos "em movimento ao lada da comunidade", em 2002.

A exposição, que teve seu início no Dia Nacional da Consciência Negra, estará aberta para visitação até sexta-feira (24/11), das 8h às 18h, no Salão Branco do Palácio de Karnak. A apresentação conta com fotografias selecionadas a partir do acervo de sindicatos, do Diretório do Partido dos Trabalhadores (PT), da família e da Fundação Francisca Trindade.

Foto: Jacinto Teles/JTNEWS
Palacio de Karnak, sede do governo do Piauí onde a Exposição fotográfica sobre Francisca Trindade está sendo exposta até o dia 24 deste mês de novembro, sob a Curadoria de Margareth Leite.

Outra referência negra que é destaque não só no Piauí, mas também nacionalmente, é Júlio Romão. Etnólogo, geógrafo, historiador, teatrólogo, jornalista e escritor, Júlio Romão também ocupou a cadeira número 31 da Academia Piauiense de Letras.

Foto: Arquivo Pessoal/Jacinto Teles
Escritor Júlio Romão: falou emocionado quando da homenagem recebida na Câmara de Teresina

Em 2010, Júlio Romão foi agraciado com o título Doutor Honoris Causa, concedido pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Faleceu aos 95 anos de idade em 2013, deixando um legado inquestionável sobre a sua contribuição na luta contra a discriminação racial. 

No Piauí, Júlio Romão foi homenageado em dois grandes eventos. Em 2007, por iniciativa do advogado e então vereador Jacinto Teles (PT), Romão foi homenageado na Câmara Municipal de Teresina com a realização de Sessão Especial.

Enquanto vereador, Jacinto Teles também foi autor do Projeto de Lei, votado em dois turnos, que aprovou o feriado municipal do Dia da Consciência Negra, em Teresina, no dia 20 de novembro. Mas na época, foi vetado pelo prefeito Firmino Filho (in memoriam), por sugestão do Clube de Diretores Lojistas (CDL) da Capital.

Esquecer Júlio Romão no Dia da Consciência Negra é uma violação à Consciência Humana

“Quando falamos de Consciência Negra e não lembramos de Júlio Romão, ela está incompleta. Júlio Romão é autor dentre outras importantes obras de “A Mensagem do Salmo”,  foi homenageado por vezes pela Academia Brasileira de Letras. É nome de uma das ruas do Méier no RJ, onde viveu a maior parte dos seus 95 anos. Na UFPI recebeu o título de Doutor Honoris Causa. Qual o porquê de ainda não ser nome de rua em Teresina?”, indaga Jacinto Teles.

Foto: JTNEWS 
"O Brasil deve muito à resistência e resiliência de Júlio Romão na luta pela Igualdade Racial; esquecer sua memória é violar a dignidade humana".

No Rio de Janeiro, Júlio Romão recebeu o título de Cidadão Carioca Honorário e, ao completar 50 anos, foi homenageado pela Assembleia Legislativa do Estado da Guanabara, e teve seu nome dado a uma das ruas do Méier, no Rio de Janeiro. Sem dúvidas, Júlio Romão foi uma personalidade magnífica além das fronteiras do Piauí,e tornou-se referência em território nacional.

Em meio a desafios e conquistas, a celebração do Dia da Consciência Negra reforça a ideia de que a luta pela igualdade racial é uma responsabilidade coletiva. Somente através do diálogo, do respeito e da promoção de políticas inclusivas, poderemos construir um futuro mais justo e igualitário.

Fonte: JTNEWS

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