Geral

Comentário a respeito de armas; por Flávio de Ostanila

"Possuir arma de fogo pode parecer, no arroubo da juventude ou na falta de experiência, um privilégio"

Foto: Arquivo pessoal
Flávio José Pereira da Silva [Flávio de Ostanila] é policial penal, escritor, bacharel em Direito e professor de Língua Portuguesa

Impérios foram conquistados com espadas, povos dominados por canhões, países tomados por metralhadoras e exércitos derrotados por fuzis. A história da humanidade foi, sem dúvida, escrita com armas. 

Foto: Arquivo pessoal
Flávio José Pereira da Silva [Flávio de Ostanila] é policial penal, escritor, bacharel em Direito e professor de Língua Portuguesa

Esse introito é tão somente para dimensionar o poder atribuído ao homem por meio do armamento e, consequentemente, as obrigações que o indivíduo passa a ter a partir do instante em que o autorizam a transportar um revólver. 

Tomemos o policial como exemplo. Anda armado em serviço para cumprir seu ofício, e fora de serviço para aumentar a probabilidade de, vivo, ir ao plantão seguinte. Às vezes isso não dá certo, e ele teve apenas a ilusão de que estava a salvo. 

Possuir arma de fogo pode parecer, no arroubo da juventude ou na falta de experiência, um privilégio; entretanto, conforme conhecimento de causa, digo que não passa de um ônus.

Outras profissões dispõem de seus instrumentos exclusivamente no trabalho. Imagine o aborrecimento que seria para o mecânico andar, durante todo o tempo, com a caixa de ferramentas! Igualmente incômodo seria o agricultor não largar o cabo da enxada ou o frentista não soltar a mangueira da bomba de combustível. Felizmente a costureira não tem que viver com a máquina de costura a tiracolo, nem a empregada doméstica precisa segurar incessantemente a vassoura. E segue assim em, se não estou enganado, todas as carreiras, exceto na área policial. 

O delinquente não tira folga (nem quando está na prisão). Por isso o profissional de segurança pública leva consigo a incumbência de proteger a sociedade em qualquer situação de risco. Não só porque a lei assim determina: por questões morais também. Seria vergonhoso para um cidadão com uma Glock 9 milímetros deixar que uma pessoa vulnerável fosse atacada por um bandido. É certo que há os covardes; mas, sobre eles, dedicarei outro texto.

A prerrogativa de conduzir uma arma impõe ao permissionário alguns desconfortos. E não vou falar aqui de ações técnicas, tais como municiar, travar e destravar – para as quais se exigem perícia, disciplina e paciência. Atividades corriqueiras se tornam embaraçosas quando se carrega uma ponto 40.

Ir a um baile e ficar horas em pé com 1 quilo de aço pendurado na cintura não tem nada de agradável! E estenda-se essa amolação a todos os cenários da vida: banco, igreja, cinema, motel, bar, praça. Se pensou numa piscina ou praia, pode esquecer! A não ser que abra mão de um pedaço de seu corpo – porque é isso que a pistola representa – para entrar na água. 

Sua mulher, seus filhos, seus amigos – todos terão que se acostumar com o inconveniente de algo letal sempre perto.

Apesar de todas essas considerações, o portador não se inquieta com as aparentes chateações. Para o detentor de arma, ser empoderado importa, acima de qualquer coisa, sua honra. 

Logo, para ele, seria indigno aceitar que o agressor obtivesse êxito na ação delitiva. Pior ainda, o infrator desarmá-lo; e horrível, o criminoso tomá-lo como refém ou matá-lo. Porém o que lhe causa mais sofrimento é imaginar que pode ser subjugado. 

Morrer é ruim! Morrer com a arma na mão é inglório. Conclui-se, então, que portar arma de fogo não é uma vantagem: é uma maldição.

Confira AQUI a última crônica do autor, publicada com exclusividade pelo JTNEWS. 

Fonte: JTNEWS

Última Notícias