A amamentação é um dos gestos mais poderosos de cuidado e vínculo entre mãe e bebê. Mas em alguns casos, ela precisa ser interrompida, seja temporária ou definitivamente, para proteger a saúde de ambos. Saber quando isso é necessário é essencial para garantir segurança, acolhimento e respeito às necessidades clínicas da mãe e da criança.
“A amamentação é um direito da criança e uma escolha da mãe. Cabe a nós, profissionais da saúde, garantir que essa escolha seja feita com segurança, acolhimento e informação.” (Graziela de Melo Mantovaneli)
Doenças que contraindicam a amamentação
Segundo o Ministério da Saúde (2016), a lista de contraindicações absolutas é curta, mas importante:
- HIV e HTLV I/II: contraindicação permanente, devido ao risco de transmissão pelo leite materno.
- Galactosemia clássica: doença genética rara que impede o bebê de metabolizar o açúcar do leite.
- Câncer de mama em tratamento: especialmente quando há uso de quimioterápicos.
- Uso ativo de drogas ilícitas como cocaína, heroína, PCP e LSD.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (2017) e a Academy of Breastfeeding Medicine (2023) reforçam essas contraindicações e acrescentam outras situações que exigem suspensão temporária:
- Herpes com lesões na mama: pode-se amamentar na mama não afetada.
- Varicela perinatal: exige isolamento materno por alguns dias.
- Doença de Chagas aguda ou com sangramento mamilar.
-Abscesso mamário: amamentação pode ser mantida na mama não afetada após drenagem e início de antibióticos.
- Exames com radiofármacos ou uso de medicamentos incompatíveis com a lactação.
De acordo com o Protocolo Clínico #21 da ABM (2023), mulheres que interrompem o uso de substâncias antes do parto podem amamentar com apoio clínico. Já o Protocolo #35 reforça que a interrupção da amamentação pode trazer riscos de curto e longo prazo para mães e bebês.
Doenças que não contraindicam a amamentação
A boa notícia é que a maioria das doenças não impede a mãe de amamentar. De acordo com o Ministério da Saúde, Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), American Academy of Pediatrics (AAP) e Centers for Disease Control and Prevention (CDC), essas condições são compatíveis com o aleitamento materno:
- Resfriados e gripes leves: o leite materno oferece anticorpos que protegem o bebê.
- Diabetes e hipertensão: com controle médico, não há contraindicação.
- Depressão e ansiedade: muitos antidepressivos são compatíveis com a lactação.
- Hepatite B e C: com cuidados específicos, a amamentação é segura.
- Tuberculose tratada: após negativação, a mãe pode amamentar normalmente.
- Uso de medicamentos comuns: antibióticos, analgésicos e anti-inflamatórios geralmente são seguros.
Segundo a Academy of Breastfeeding Medicine (2023), o leite materno é biologicamente ideal e sua interrupção deve ser evitada sempre que possível, mesmo em contextos de hospitalização.
A amamentação é mais do que um ato nutricional, é uma expressão de cuidado, vínculo e proteção. Mesmo diante de desafios clínicos, é possível encontrar caminhos seguros e respeitosos para garantir esse direito à criança e à mãe.
“A cada mãe que enfrenta dúvidas ou dificuldades, deixo meu abraço.
Vamos juntas, com informação, acolhimento e coragem, fortalecer esse gesto de amor que é amamentar.” (Graziela de Melo Mantovaneli)
Por Graziela de Melo Mantovaneli, enfermeira e tutora em Aleitamento Materno e Alimentação Complementar pelo Ministério da Saúde.
Fonte: JTNEWS