Segundo o Congresso em Foco, as constantes viagens com dinheiro público do deputado Tiririca (PL-SP) para Fortaleza, mesmo tendo domicílio eleitoral na capital paulista, viraram alvo de investigação.
O Ministério Público Federal (MPF) em Brasília abriu no último dia 18 um inquérito civil para apurar o uso irregular da verba destinada exclusivamente ao exercício do mandato.
Cearense, Tiririca tem escritório político em São Paulo, mas não tem aparecido por lá. Até então ele havia voado uma única vez para a capital paulista e 35 vezes (70 trechos de ida e volta) para o Ceará. Esses gastos somavam R$ 70 mil.
O uso da cota para fins particulares é proibido pelo regimento interno da Câmara. Além de Tiririca, assessores de seu gabinete também voaram para a capital cearense. Funcionários podem voar com a cota, desde que a trabalho. O MPF vai investigar se há relação entre as viagens para o Nordeste com o exercício do mandato, dado a ele por eleitores de São Paulo.
Comediante e primeiro palhaço eleito para o Congresso, Tiririca tem conciliado as atividades em Brasília com seus shows artísticos. Com base em reportagens do Congresso em Foco e da revista Época, o Instituto OPS denunciou o deputado do PL à Câmara, ao Ministério Público Federal e ao Tribunal de Contas da União (TCU).
Tiririca recebe salário de R$ 33,7 mil e tem uma verba de mais de R$ 40 mil para gastar com passagens e outras despesas atreladas ao exercício do mandato, além de auxílio-moradia ou apartamento funcional na capital federal.
A Câmara expediu um total de R$ 142,9 mil para o gabinete de Tiririca entre fevereiro e outubro de 2019. Procurados, o deputado e sua assessoria declararam que não comentariam os motivos das viagens.
Responsável pela denúncia na PGR e no TCU, o diretor-presidente do Instituto OPS, Lúcio Big, diz que todo político deve ter total responsabilidade sobre o uso de dinheiro público.
"Não é possível que um representante eleito pelo povo trate de um assunto tão sério como sendo mais uma de suas piadas. Quando descobrimos o indício de uso irregular do dinheiro público, imediatamente acionamos a Câmara dos Deputados, o MPF e TCU, uma vez que o deputado Tiririca e sua equipe não quiseram responder aos nossos questionamentos. Esperamos que o parlamentar devolva aos cofres públicos todo o valor envolvido", afirma Lúcio.
As passagens de uma assessora custaram R$ 40,2 mil, dos quais R$ 24,9 mil em viagens entre Brasília e Fortaleza, capital distante 2,3 mil km (em trajeto aéreo) da paulista, principal base eleitoral de Tiririca. Com outro assessor os gastos chegaram a R$ 20,7 mil. Já o terceiro somou R$ 5,6 mil. Com exceção de um trecho, os demais voos desses dois foram entre Brasília e cidades paulistas, como São Paulo, São José do Rio Preto, Campinas e Ribeirão Preto.
O distanciamento da base eleitoral não significa que Tiririca não esteja trabalhando. Este ano, por exemplo, ele apresentou 17 propostas voltadas para as áreas da saúde, da educação, dos idosos e da comunidade circense. Desde 2012 ele foi autor ou coautor de 53 proposições. Sua assiduidade, que chegou a 100% nos dois primeiros mandatos, ainda é alta. O deputado registrou presença 110 vezes na Câmara e justificou oito de suas 15 ausências. Deixou apenas uma sem justificativa.
Fonte: Congresso em Foco