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PSDB deve repensar pré-candidatura no RJ, após morte prematura de Gustavo Bebianno

O corpo de Gustavo Bebianno será velado em uma capela vizinha ao sítio do ex-ministro do presidente Jair Bolsonaro em Teresópolis, no Rio de Janeiro

Foto: Ricardo Borges/Folhapress
Retrato de Gustavo Bebianno, ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência do governo Bolsonaro, morto neste sábado (14)

O ex-ministro Gustavo Bebianno, 56, morreu na madrugada deste sábado (14). Segundo amigos da família, ele sofreu um infarto em seu sítio, em Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro, e morreu por volta das 5h30 em um hospital da cidade.

Foto: Ricardo Borges/Folhapress
Gustavo Bebianno, ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência do governo Bolsonaro

Amigo de Bebianno, o empresário Paulo Marinho disse que o corpo será velado em uma capela vizinha ao sítio do ex-ministro do presidente Jair Bolsonaro. Bebianno era pré-candidato à Prefeitura do Rio, pelo PSDB. Ele deixa a mulher e dois filhos.

“A cidade do Rio perdeu um candidato que iria enriquecer o debate eleitoral, e eu perdi um irmão. O Gustavo morreu de tristeza por tudo que ele passou. Agora é hora de confortar a esposa, os filhos e os amigos”, disse Marinho.

Ele se aproximou de Bolsonaro em 2017, após série de tentativas de conhecer "o capitão" desde 2014. Na ocasião, fazia um trabalho de levantamento de bens para a Arquidiocese do Rio de Janeiro, quando, por meio de um amigo, pediu para ser apresentado ao então presidenciável. Apresentou-se como fã e sempre se disse admirador do capitão, a quem sempre se referia com ares de devoção.

Durante a campanha, Bebianno presidiu o PSL e se apresentava como faz-tudo. Costumava dizer que era ele o tesoureiro, o advogado e o assessor de imprensa do então candidato.

A pedido de Bolsonaro, Bebianno assumiu, em 2018, a presidência do PSL e a coordenação da campanha nacional à Presidência. Após a vitória nas urnas, ele foi anunciado como secretário-geral da Presidência.

Formado em direito pela PUC-Rio, teve duas passagens por um dos maiores escritórios de advocacia do país, de Sergio Bermudes, de quem era amigo, mas não foi na advocacia que ganhou fama e destaque profissional.

Ele se queixava, por exemplo, do fato de nunca ter sido lembrado em reportagens por sua formação acadêmica. Contava ter três MBAs e um mestrado em finanças pela Universidade de Illinois, nos EUA.

Como exemplo da carreira de gestor, citava a experiência que teve no Jornal do Brasil de 1995 a 2001. Lá, atuou como diretor administrativo, jurídico e comandou o setor de recursos humanos. Em sua segunda passagem pelo escritório de Bermudes, de quem era amigo, também atuou como administrador.

Bebianno foi o primeiro ministro demitido do governo Bolsonaro, em fevereiro, ao se tornar o centro de uma crise instalada no Palácio do Planalto depois que a Folha revelou a existência de um esquema de candidaturas laranjas do PSL para desviar verba pública eleitoral.

O partido foi presidido por ele durante as eleições de 2018, em campanha de Bolsonaro marcada por um discurso de ética e de combate à corrupção.

Como presidente do PSL nas eleições, Bebianno foi o homem forte da campanha vitoriosa de Bolsonaro e responsável formal pela liberação de verba pública para todos os candidatos do partido. Sua ligação próxima com o presidente o alçou a um ministério instalado dentro do Palácio do Planalto.

Antes de deixar o cargo, Bebianno disse à colunista da Folha Mônica Bergamo que, fora do cargo, não pretendia atacar Bolsonaro, embora tivesse ali uma expectativa de que ele mirasse no vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, que alavancou a crise ao chamar Bebianno de mentiroso.

Carlos, que cuidava mais ativamente da estratégia digital do presidente, postou no Twitter que o então ministro havia mentido ao jornal O Globo ao dizer que conversara com Bolsonaro três vezes, negando a turbulência política causada pelas denúncias das candidaturas laranjas.

Antes dessa declaração, a Folha havia publicado que Bolsonaro, ainda internado no hospital Albert Einstein no processo de recuperação de uma cirurgia, se recusara a atender um telefonema de Bebianno para tratar do assunto dos laranjas.

Foto: Mauro Pimentel/AFP
Caso dos laranjas do PSL levou à demissão de Gustavo Bebianno, o primeiro ministro a cair no governo Bolsonaro

Bolsonaro endossou nas redes sociais os ataques do filho, inclusive de que Bebianno mentiu, e ainda afirmou, em entrevista à TV Record, que seu ministro poderia "voltar às suas origens” se fosse responsabilizado pelo caso dos laranjas. Na mesma entrevista, Bolsonaro anunciou que havia determinado a investigação pela Polícia Federal.

Além das críticas, Carlos Bolsonaro elevou a temperatura da crise ao divulgar um áudio no qual o presidente da República se recusa a conversar com Bebianno. A interferência de Carlos foi alvo de críticas de aliados e da ala militar do governo Bolsonaro, que agiu sem sucesso para tentar segurar Bebianno.

A gota-d’água para a demissão, segundo integrantes do Planalto, foi o vazamento de diálogos privados entre Bolsonaro e Bebianno, exclusivos da Presidência, ao site O Antagonista e à revista Veja. ​

Pessoas próximas recorrem à analogia de um "relacionamento quase que conjugal", tamanha a proximidade que Bolsonaro e Bebianno tiveram durante a campanha. Mas, mesmo tendo se tornado ministro palaciano, Bebianno já havia se distanciado do clã Bolsonaro entre o primeiro e segundo turno das eleições.

Ele seguia na presidência nacional do PSL, mas passou a evitar frequentar muito a casa do então candidato quando as divergências aumentaram com Carlos Bolsonaro. A piora na relação teve como pivô a comunicação de Bolsonaro.

Carlos foi quem criou a estratégia de uso intensivo das redes sociais. Ele ficou incomodado com o fato de não participar das gravações do programa eleitoral e da adoção de estratégias, o que ficou a cargo de um núcleo em torno de Bebianno.

Foto: Adriano Machado/Reuters
Jair Bolsonaro e Gustavo Bebianno, no Planalto, em janeiro deste ano

O distanciamento se aprofundou durante o governo de transição —entre novembro e dezembro de 2018. Apesar de ter sido homem forte da campanha de Bolsonaro, Bebianno demorou a ser oficializado ministro.

A escolha dele foi uma das únicas que não foram publicadas no Twitter de Bolsonaro, como ele fez com quase todos os ministros. Carlos também operou para esvaziar a Secretaria-Geral quando o pai decidiu que seu desafeto seria o titular da pasta.

Ele costurou para que saíssem do guarda-chuva da secretaria a Secom (Secretaria de Comunicação Social) e o PPI (Programa de Parcerias de Investimentos). Com isso, a pasta assumida por Bebianno ficou com uma atividade mais administrativa.

A gota d'água da relação com o presidente foi Bebianno ter colocado em sua agenda oficial um encontro com o vice-presidente de Relações Institucionais da Rede Globo, emissora vista pelo núcleo familiar do mandatário como hostil ao governo.

Fonte: Folha de S. Paulo

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