A audiência de instrução e julgamento de Francisco de Assis da Costa e Maria dos Aflitos Silva, acusados de envenenar e matar oito pessoas da própria família, ocorreu nessa sexta-feira (05) e trouxe novas informações para o caso. Em depoimento, Maria dos Aflitos voltou atrás em sua confissão inicial e atribuiu a autoria do crime a uma das vítimas, a vizinha Maria Jocilene da Silva, de 41 anos, que morreu envenenada. A sessão ocorreu na 1ª Vara Criminal da Comarca de Parnaíba.
Maria foi a primeira a prestar depoimento. Ela relatou que a família celebrou a noite do réveillon de 2024, mas no almoço do dia seguinte surgiram os primeiros sinais de intoxicação. Segundo a acusada, uma das filhas preparou o arroz a pedido de Francisco, reaproveitando sobras da ceia. Maria afirmou ainda que não participou da refeição por estar indisposta e de ressaca, permanecendo deitada durante o dia.
Durante o depoimento, Maria destacou que Francisco e Jocilene mantinham conversas frequentes e relatou que, quando o companheiro foi preso, a vizinha ficou nervosa e chorou, o que levantou suspeitas. Ela também relatou que, quando as crianças começaram a passar mal, pediu para que Francisco acionasse o Samu. No entanto, segundo a ré, ele se recusou afirmando que o celular estava descarregado. Maria então recorreu à vizinhança para pedir ajuda.
Em outro momento do depoimento, a acusada afirmou que, inicialmente, acreditava que a vizinha Lucélia Maria da Conceição teria entregue cajus envenenados, mas voltou atrás. “Eu acreditava que tinha sido ela, mas quando aconteceram as outras mortes eu desconfiei do Assis. Tá errado. Foi ele que matou meus filhos. Eu não tenho culpa e não tenho envolvimento. Estou pagando por algo que não devo”, declarou.
Já Francisco de Assis chamou a companheira de “desequilibrada” e também transferiu a culpa a Jocilene. O acusado negou ter preparado a refeição de Ano Novo e afirmou que não sabia cozinhar. Segundo ele, o baião de dois consumido pela família no dia 01 de janeiro teria sido feito pela vizinha, que mantinha proximidade com a família. Francisco ainda mencionou rumores de que Maria e Jocilene teriam um relacionamento, tentando reforçar a suspeita sobre a vítima.
O advogado de acusação questionou a mudança de versão, ressaltando que só agora, mais de um ano após o início dos envenenamentos, os réus passaram a atribuir a culpa a Jocilene, morta em janeiro de 2025 e, portanto, sem possibilidade de defesa.
Segundo a denúncia do Ministério Público, Maria dos Aflitos e Francisco de Assis agiram de forma premeditada, utilizando o veneno agrícola terbufós para matar familiares entre agosto de 2024 e janeiro de 2025. As vítimas incluem crianças e adultos da mesma família, entre eles João Miguel da Silva (7 anos), Ulisses Gabriel da Silva (8 anos), Manoel Leandro da Silva (18 anos), Maria Lauane Lopes Silva (3 anos) e Francisca Maria da Silva (32 anos).
Entenda o caso
Agosto e novembro de 2024 – As primeiras mortes foram das crianças João Miguel (7 anos) e Ulisses Gabriel (8 anos), em Parnaíba, após ingerirem alimentos contaminados. A vizinha Lucélia Maria da Conceição foi acusada e chegou a ser presa após a polícia encontrar veneno em sua casa, mas foi solta meses depois.
1º de janeiro de 2025 – Durante um almoço de Ano Novo, nove pessoas passaram mal após comer baião de dois. Cinco morreram nos dias seguintes: Manoel Leandro (18 anos), Maria Lauane (3 anos), Francisca Maria (32 anos), Maria Gabriela (4 anos) e Igno Davi (1 ano e 8 meses). Exames confirmaram a presença de veneno agrícola terbufós na comida.
22 de janeiro de 2025 – A vizinha Maria Jocilene da Silva (41 anos) morreu após ingerir café na casa de Maria dos Aflitos. Laudos confirmaram o uso do mesmo veneno.
Investigação – O Ministério Público apontou que Maria dos Aflitos e Francisco de Assis teriam agido de forma premeditada e cruel, controlando os alimentos da família e introduzindo veneno em diferentes refeições. Documentos encontrados mostraram que Francisco tinha obsessão por ideais nazistas e substâncias tóxicas.
Acusação – Os dois respondem por oito homicídios qualificados e outras tentativas de homicídio. Entre as vítimas estão filhos e netos de Maria, além de vizinhos próximos.
Fonte: JTNEWS com informações do GP1